fevereiro 03, 2006

SAIR OU FICAR EM CASA?

Realmente não sei a que se resume a vida. Principalmente a minha.
Ontem resolvi sair de casa — como tinha feito no dia anterior. Queria me livrar da angustia, da solidão que escolhi para mim. As paredes e as salas vazias, todo o tempo me lembravam disso.

Pois bem, no meio da tarde recebi um telefonema, era um convite para uma festa de aniversário, a qual me animou a sair.

Pus um som, desses que se põe quando se quer animar e ter coragem para enfrentar a desgraça que é a vida sem a proteção de suas paredes e salas.

Enquanto ia no ônibus, não deixava de pensar na minha condição miserável de um jovem à deslizar pelos vinte, sozinho e sem amigos.
Dramas à parte, repetia para mim mesmo:

— vai ser bom você sair, esquecer um pouco quem você é! Mas quem sou eu?
O meu signo do zodíaco dizia que eu era livre para tudo, exceto tentar ser alguém que não sou.
Depois de lida esta frase, nunca mais pude esquece-la! E olha que eu nem se quer procurei a seção de horóscopos no jornal.

No entanto, como se não bastasse, ainda encontro também Drummond e sua dúvida:
O que é o homem? Que sonho, que sombra? Mas existe o homem?

Depois de tantos questionamentos filosóficos, concordei comigo mesmo que ia ser bom assistir um filme qualquer e esquecer a minha deprimente existência.

Se por um lado as paredes vazias de minha casa gritavam com seu silencio que sou um cara completamente sozinho, a rua seria ainda pior. E não é pelo seu barulho não!

Nem ir ao cinema hoje em dia se pode mais. Todos aqueles casaizinhos e beijinhos e apelidozinhos. Ao passo que achava a cena idiota, também me deprimia — no bom sentido — se é que existe se deprimir no bom sentido.

Aqueles jovens — em minha idade — vivendo, beijando, beijando, vivendo. E eu ali, na fila do cinema, tendo que assistir tudo isso. E o que é ainda pior; acabo encontrando um conhecido, que esfrega sua namorada na minha cara, visto que tinha notado que eu estava sozinho.

Enfim, tudo isso só me fez querer voltar para casa. Pelo menos ela era mais delicada em me dizer que sou um nada, e que não adianta sair dela, pois lá fora é ainda pior. Além de ouvir que você é um indivíduo anormal, também vê. Ou seja, dois sentidos reforçam melhor uma idéia do que um só. Logo, é melhor eu ficar em casa!

texto de 2001

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