fevereiro 28, 2006

EU PENSO QUE...

" É melhor calar e deixar que os outros pensem que talvez você seja tolo, do que falar e acabar com a dúvida"



Provérbio de autoria desconehcida.

"MUITOS NICOLAIS JÁ SE FORAM"

Em um povo há a necessidade de um modelo, de um governante modelo, de um Estado modelo. E se para suprir essa necessidade, um “líder” tiver de ultrapassar alguns limites “éticos” e “morais”, então que o faça em prol deste povo e ele o venerará.

Esta bem que poderia ser uma frase extraída da obra O Príncipe, de Maquiavel, contudo, este livro trás mais do algumas frases de efeito. Este livro traz e revela toda uma maneira de governar, mostra e ensina que por traz de toda ação há em grande parte um plano meticuloso para que ela aconteça.

Aquele que matar sofrerá também a conseqüência da morte. Aquele que roubar, terá cortada às mãos. Essas eram algumas causas e conseqüências das punições praticadas nos tempos de Hamurabe. De certo, que o percurso dessa época até Maquiavel seja bem longo. Nos tempos do Príncipe não seria bem assim. Aquele que roubar... O fará em causa justa, “ensinaria a obra” - convém enfatizar que na obra de Nicolau não há nada que proponha diretamente este tipo de prática, contudo, explicita de maneira cuidadosa como se deve cobrar imposto sem que seja de mal grado fazê-lo.

Aquele que foi morto... Servirá como bode expiatório, servirá como exemplo, por que é assim que age um príncipe de verdade: severo quando necessário, misericordioso aos olhos do povo.
Contudo, esse povo deve exigir de seu governante quatro virtudes: clemência, benevolência, humanidade e religiosidade. Esta última com cautela, a igreja não devia ser bem vista ao governo de um príncipe, ainda mais se este quiser que seu reino esteja ao seu comando. Observa Maquiavel em sua obra, referindo-se a igreja católica e suas práticas nada ortodoxas, naquela época.

O príncipe foi escrito há pouco mais de quatro séculos, suas palavras jamais deixaram de ter seguidores e aprendizes. Nicolau morreu sem ver na prática – em Roma – suas idéias em andamento. Contudo, muitos Nicolais já se foram e por certo outros virão, logo, resta saber se a obra justifica o autor ou o autor a obra.





DISSERTAÇAO QUE EU IREI APRESENTAR A MEU PROF. DE FILOSOFIA ,UMA FIGURA APÁTICA, TANTO NADISCIPLINA COMO NA VIDA!

fevereiro 27, 2006

O SILÊNCIO DE BROKEBACK MOUNTAIN


Foi uma coisa totalmente inesperada, nunca ví algo assim antes. Foi chocante para mim.
Eu vou ao cinema a mais de 10 anos e nunca presenciei aquilo. A sala parecia um cemitério, um oco, um buraco negro, dava até para ouvir o som dos quadros do filme rodando no projetor. ninguém ria (quando convinha), ninguém tussia, ninguém respirava.

De certo não era em respeito a sensibilidade do filme, na certa esta reação era uma reação a falta desta. Quando observei algumas pessoas sairem da sala, não acreditei - já tinha lido e já tinham me falado a respeito disso - mas não acreditei. O que aqueles que sairam pensavam sobre o filme? Que era um drama pornô entre cowboys? Sim, por que escolheram a primeira cena mais íntima entre os dois para sairem. O filme é muito maior que suas cenas e acredito que aqueles que compraram o ingresso para vê-lo, já sabiam do que se tratava. Não acredito nesse choque todo das pessoas, acredito num falso moralismo que o impediram de proceguir até o final.

Eles devem se sentir tão culpados pelo que fazem escondidos ou entre quatro paredes que não admitem ver isso numa grande tela.

O filme é de uma sensibilidade impar, o contexto é emotivo, sincero. Qualquer um que goste tanto de cinema quanto eu irá admitir isso. O enredo caberia para um casal de homens, mulheres e até heteros é a história que emociona e não quem as vive, se trata apenas de sentimentos humanos e isso independe do sexo.

O silêncio serviu para uma coisa: ouvir melhor a trilha sonora que é simples e ao mesmo tempo complexa, embala e disnorteia, causa reflexao e te deixa pensar, assim como a vida!

NÃO PODEMOS JULGAR O QUE É CERTO NEM O QUE É ERRADO!

fevereiro 16, 2006

QUEREM ROUBAR MINHA IDENTIDADE





Pois é, é isso mesmo querem roubar minha identidade, não tem um lugar que eu chegue que uma pessoa não comente para mim que eu pareço com alguém, seja anônimo ou nao!

Esses caras aí em cima são aguns exemplos, depois de um tempo passei a verificar e concluie que não tenho nada a ver com esses caras, não estou me queichando não, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Não quero parecer com esse ou aquele, já é tão dificil se sobressair entre os demais, mas me transformar só em um rosto...É complicado!

O que de comum entre eu e esses caras? As únicas coisas seriam as sobrancelhas grossas, o cabelo liso e escuro e o maxilar delineado, angular, somente isso e mais nada(penso).

Não posso impedir que me comparem com esses ou outros caras, mas me sinto um pouco frustrado!

De cima para baixo: Elijah Wood - Ator, Colin Farrel - Ator, Goran Visnjic - Ator, Caio Blat - Ator, Johnny Depp - Ator e Kevin Richardson - Cantor.

FALTA DE ABSURDO

SE VOCÊ VIER A ALAGOAS NÃO SE ESQUEÇA: PROTEJA-SE, ELES PODEM TE LEVAR TUDO E DE REPENTE VC NEM SE DA CONTA QUE JÁ NÃO ESTÁ MAIS COM O QUE VOCÊ ESTAVA ANTES: A ADUCAÇAO.

POIS É, SE VOCÊ VIER A ALAGOAS SUJIRO CAUTELA E AFASTAMENTO E OLHA QUE EU NEM ESTOU FALANDO DA POLUIÇÃO NAS PRAIAS – NÃO TODAS. EU FALO DE ALGO TAMBÉM DE VITAL IMPORTÂNCIA, PRINCIPALMENTE PARA QUEM NÃO ESTÁ ACOSTUMADO POR AQUI.

OS ALAGOANOS, EM SUA MAIORIA, SÃO AS PESSOAS MAIS MAL-EDUCADAS QUE EU JÁ VI, PENSO QUE DE TODO O NORDESTE. SÃO MAL-EDUCADOS EM TUDO, NO TRANSITO, NOS CAIXAS, NA EDUCAÇÃO – DIDÁTICA - E ATÉ QUANDO PEDEM ESMOLAS, POIS É, ATÉ NISSO. O MODO COMO TRATAM SEUS PRÓPRIOS CONTERRANEOS É ASSUSTADOR, MAS TUDO ISSO PARA TURISTA NENHUM PODER VER OU OUVIR, AS VEZES , CREIO.

A DIFERENÇA É GRITANTE, FAÇA VOCÊ UM TESTE: SE FOR PEGAR CONDUÇÃO, NOTE A DIFERENÇA ENTRE O LITORAL E O CENTRO, POR EXEMPLO. NO LITORAL EXISTEM OS BONS DIAS, BOAS TARDES E BOAS NOITES, NO CENTRO NÃO, NO CENTRO EXISTE: NÃO EMPURRA QUE ÔNIBUS NÃO VAI FUGIR, PÕE A MINHA BOLSA NA POLTRONA VAZIA, PRA GUARDAR ENQUANTO EU SUBO, SOBE LOGO VOVÓ! DENTRE OUTRAS QUE VOCÊ, SE VIER A MACEIÓ COMPROVARÁ.

É UMA FALTA DE ABSURDO QUE UMA CAMISA E UMA BERMUDA FLORIDA, INFLUENCIEM NO MODO DE TRATAR O OUTRO, UM OUTRO ALAGOANO. SE VOCÊ FIZER UM TOM MAIS PUXADO PARA O “S” OU “R” AO FALAR, AÍ SIM É QUE A COISA MUDA DE FIGURA. A ADUCAÇÃO SURGE INSTANTANEAMENTE, É INCRIVEL.

O LITORAL DAQUI É UM DOS MAIS BONITOS DO MUNDO, PENA QUE AS PRAIAS NEM A CIDADE NÃO SEJAM DESERTAS OU PELO MENOS COM NATIVOS MUDOS.
CONCORDO COM SARTRE: “O INFERNO SÃO OS OUTROS” E COMPLEMENTARIA: “ O INFERNO SÃO OS OUTROS E OS DIABOS SÃO ALAGOANOS”.

fevereiro 11, 2006

SEU NOME EM HIERÓGLIFO

Encontrei num blog esse link curioso, basta que você digite seu nome onde é pedido, que ele é traduzido para os tempos dos faraós! http://www.upennmuseum.com/hieroglyphsreal.cgi

meu nome traduzido ficou o seguinte:

.


Está abreviado, observe o ponto no fim da figura. Não ia conseguir colocar tudo, meu nome é muito grande, aliás, nem sei se coloquei direto, na ordem!


fevereiro 10, 2006

ELA DIZ QUE NÃO TEM TEMPO PARA VOCÊ AGORA (A VIDA)

Você pensa que seus dias são insignificantes
E ninguém nunca pensa em você

Ela vai pelo seu próprio caminho
Ela vai pelo seu próprio caminho

Você diz que seus dias são comuns
E ninguém nunca pensa em você

Mas nós todos somos iguais
E ela mal pode respirar sem você

Ela diz que não tem tempo
Para você agora

Penso nas pessoas solitárias
Então penso no dia que ela encontrou você

Ou mentiu para si mesma
E viu tudo se dissolver ao seu redor
Ela diz que não tem tempo
Para você agora

Ela diz que não tem tempo
Para você agora
Pessoas solitárias tropeçam e caem
Mas meu coração estará aberto para você.

"she has no time" - Keane (traduzida).
www.vagalume.uol.com.br

fevereiro 09, 2006

UM TRISTE NOVEMBRO

Terça-feira, 22 de novembro de 2005, 01:33 am.

Sonhei com você esta noite, com você e esse seu sorriso que sempre me cativou e sempre me fez feliz. Tudo que me lembro do sonho é a sensação de paz.

Eu acordei com essa sensação e tentei mantê-la viva o maior tempo possível, estou escrevendo para dizer que estou em busca dessa paz e para lhe dizer que lamento por muitas coisas.

Desculpe ficar tanto tempo sem falar com você, eu me sinto perdido, sem rumo, sem bússola. Fico batendo nas coisas, até parece loucura. É a primeira vez que eu me sinto perdido, você era meu verdadeiro norte.

Eu podia ir para casa só na esperança de ouvir sua voz ao telefone, desculpe por ficar tão nervoso quando falamos pela última vez, ainda acho que houve um engano e espero que se possa corrigir isso.

Desculpe por não tentar encontrar palavras para dizer o que eu sentia. Era orgulhoso demais. Desculpe por não elogiar mais você, pelas roupas que usava e por seu cabelo estar mais bonito, desculpe por não insistir em ficar ao seu lado, para que nada nem ninguém jamais a tirasse de mim.


Ass: Um triste novembro.


Este texto originalmente seria um e-mail que eu mandaria para a mulher em questão. Não mandei, ela não merecia que fizesse isso. Se me arrependo de não te-la conhecido? Não!
Me arrependo dela ter conhecido a mim. Por me fazer pensar , nem que por um segundo, que ela merecia essas as palavras acima. A vida, um tédio...a vida.
P.S. talvez ao ver estas duras palavras, ela me ache estúpido demais. E já não sou? Afinal escrevi esse e-mail melodramático.

DURKHEIM ENTRE UM POETA E UM CIENTISTA

Gostaria antes de tudo de falar primeiramente não de Durkheim (1820-1903), mas da vida. No entanto, compreendo que assim estou tratando dela mesmo assim.
Ao fazer este pequeno discurso ideológico me reporto, mas intimamente, ao poeta Ferreira Gullar, que conseqüentemente me remete a Heidegger (1889-1976) quando diz:

“o ser se desvela na linguagem, mas não na linguagem científica propriamente dita, e sim na linguagem autentica da poesia.”

Penso que o cientificismo de Durkheim, que buscava solucionar os problemas sociais de sua época, se contraporá a mim enquanto estiver escrevendo.

Ao ver e ouvir o debate entre um poeta e um cientista, quis naquele instante me submeter ao racionalismo científico de Rogério Cezar, quando se trata de revelar o que de fato acontece com o mundo que nos cerca. Relato minha impaciência em descobrir se tudo que conheço, tenha vindo realmente de um imenso Big-Bang.

No entanto, ao mesmo tempo me submeti ao lugar de Gullar quando afirmou que o cheiro de uma flor, algo que o remeteu de certo a lembranças íntimas, era mais que sensações causadas por hormônios.
Contudo, não sei se a normalidade social de que falou Durkheim se enquadra aqui, mas gostaria de manter, assim como ele — considerando os devidos assuntos de que trata cada um — um certo controle e o poder de mim mesmo.


A função de pensamento Durkheimiano era também nos dizer que comportamo-nos segundo as regras previamente estabelecidas, assim entendi que tais regras são inerentes à vida biológica e, não tendo o indivíduo como substrato, têm como base a sociedade.

Logo, as coisas que vivenciaríamos simplesmente não aconteceria pelo fato de estarmos biologicamente preparados para isso, segundo entendi afirmar Rogério Cezar. Ousaria neste instante intrometer Goethe a argumentar comigo, para me certificar neste momento que a metodologia científica, seja ela de que ou de quem, acaba com a poesia da vida de que tanto defendeu Gullar.

“ Pensar é mais interessante que saber, mas é menos interessante que olhar.”(Goethe).

Não sei se a influência positivista de Durkheim me afeta, mas este debate me fez crer, que nem tudo é como simplesmente é: a água uma molécula ou as cores um processo físico da natureza. Desejo entender que esse tudo é algo ainda não explicado, pois a alma de tudo ainda não tem explicação.


Trabalho de sociologia que apresentei depois do encontro que deu título a esse texto. O detalhe é que a professora desta disciplina: sociologia, ao seu modo de ver, dicidiu não atribuir nota alguma " não é digno de nota" disse. E mais adiante: "limite-se em apenas fazer o que lhe foi pedido". Num ataque ao meu texto por ter sido filosófico-existencialista demais. O que eu posso dizer? universidade pública, professores limitados, alunos limitados.

AQUELE MOMENTO EM PARTICULAR

Minha base estava balançada. Minhas tentativas e meu jeito verdadeiro de me expor eram por vaidade.
Minhas andanças estavam envelhecendo e eu fiquei na sala balançando os meus sapatos.
Naquele tempo em particular, o amor tinha me desafiado a ficar.
Naquele momento em particular, eu sabia que não fugiria de novo.
Naquele mês em particular, eu estava pronto a me descobrir com você.
Aquele tempo em particular.

Nós achamos que um tempo poderia ser bom e por muito tempo sentamos e esperamos.
Nós achamos que um pequeno tempo separados poderia tirar as dúvidas que eram muitas.
Naquele tempo em particular, o amor me encorajou a ficar.
Naquele momento em particular, eu me ajudei a ser paciente.
Naquele mês em particular, nós precisamos de tempo para entender o que “nós” significávamos.
Aquele tempo em particular.

Eu sempre quis pra você o que você sempre queria pra si próprio.
E eu ainda quero salvar-nos das águas ou do inferno.
Eu continuei ignorando a inconstância que você sentia. E nesse meio tempo eu me perdi.
E nesse meio tempo eu me perdi.
Desculpe-me, eu me perdi.
Eu me perdi.

Você sabia que eu necessitava de mais tempo... De um tempo, perdido, sozinho, sem distrações.
Você sentia a necessidade de voar sozinha pra definir o que você queria.
Naquele tempo em particular, o amor me encorajou a deixá-la.
Naquele momento em particular, eu sabia que, ficando com você, estaria me estilhaçando.
Naquele mês em particular, foi duro pra que você acreditasse que eu ainda sinto aquele momento em particular.
letra de música, taduzida e adaptada. título original: "that particular time"

NE ME QUITTE PAR

Não me deixes,
Não me deixes,
É preciso esquecer,
Tudo se pode esquecer
Que já para trás ficou.
Esquecer o tempo dos mal-entendidos
E o tempo perdido a querer saber como
Esquecer essas horas,
Que de tantos porquês,
Por vezes matavam a última felicidade.

Não me deixes,
Não me deixes.
Te oferecerei
Pétalas de chuva
Vindas de países
Onde nunca chove;
Escavarei a terra
Até depois da morte,
Para cobrir teu corpo
Com ouro, com luzes.
Criarei um país
Onde o amor será rei,
Onde o amor será lei
E você a rainha.

Não me deixes,
Não me deixes.
Te Inventarei
Palavras absurdas
Que você compreenderá;
Te falarei
Daqueles amantes
Que viram de novo
Seus corações ateados;
Te contarei
A história daquele rei,
Que morreu por não ter
Podido te conhecer.

Não me deixes,
Não me deixes.
Quantas vezes não se reacendeu o fogo
Do antigo vulcão
Que julgávamos velho?
Até há quem fale
De terras queimadas
A produzir mais trigo;
Que a melhor primavera
É quando a tarde cai,
Vê como o vermelho e o negro
Se casam
Para que o céu se inflame.

Não me deixes,
Não me deixes,
Não me deixes.
Não vou chorar mais,
Não vou falar mais,
Escondo-me aqui
Para te ver
Dançar e sorrir,
Para te ouvir
Cantar e rir.
Deixa-me ser a sombra da tua sombra,
A sombra da tua mão,
A sombra do teu cão.

Não me deixes,
Não me deixes.


Maysa - Ne Me Quitte Pas (Tradução)
music: Jacques Brel

fevereiro 08, 2006

CAFÉ-COM-LEITE

Não quero parecer grotesco, absurdo ou até mesmo racista, mas não posso deixar de expor meu ponto de vista sobre esse determinado assunto. Tenho assistido a “espetáculos” com relação às raças desse nosso Brasil e por vezes me vem certas indignações. “Temos que fazer nosso papel com relação aos negros”.

Dizem. Eu concordo, mas, eu neste século irei resolver um problema arraigado em tantos outros séculos atrás? Sou a favor de uma melhoria na qualidade de vida de qualquer pessoa, branco, negro ou amarelo, mas também, sou a favor de uma visão igualitária para todos, coisa que essas tais cotas não representam. Sinto como se tivesse deixando varias outras minorias (ou maiorias) de fora ao “valorizar” somente uma.

Sinto como se fosse um crime não ser negro, “não ter” um passado sofrido para ter direito a “regalias” que se tem agora. As cotas não vieram para melhorar, a meu ver, ao contrario, somente piora a questão do grau de valorização que uma raça tem de si a até mesmo a de outras. Esta, porém, é uma questão que caminho em não me aprofundar.

Tenho “vários” amigos negros. Converso, convivo, para mim nunca existiu essa coisa de branco e negro, estamos no Brasil, que é tem realmente uma cor ou outra? Somos todos humanos. Ao que tudo indica querem que eu me sinta péssimo por não me declarar negro e conseguir vagas em universidades, programas de extensão e outros.

O que leio todos os dias no jornal universitário é isso: programas de cotas, programas de cotas. Será que estou com preconceito às avessas? Com o tempo saberei por hoje não prefiro me declarar nem branco, nem negro... Café-com-leite (pardo).

fevereiro 05, 2006

AINDA SOMOS OS MESMOS?

Eu estou surpreso, sinceramente, quando decidi publicar este blog jamais imaginaria que ele fosse lido algum dia por alguém, bem estamos na internet, era digital e tudo mais, o que mais se espera?

Falando em internet e essa coisa toda, mais surpreso ainda foi o número de pessoas que me adicionaram naquele velho site de comunidades virtuais. É... o orkut.

Claro que adiciono todos , mesmo sem conhecer a maioria. Eu que a vida toda - falo até agora - sempre fui um fracasso para fazer novos amigos ou até mesmo me comunicar com um estranho na rua dando-lhe um simples bom dia, estou com mais de 200 de "amigos".

O que é importante nisso não é quantidade, ninguém passa a vida sem ter pelos dois ou três amigos, lógico eu não fui e nem sou diferente, tenho sim esses dois ou três - agora sim o número é importante.

O fato é, não importa se tenho três ou duzentos amigos, nunca me senti totalmente ligado a nenhum, talvez pelo fato de que tanta ironia, sarcasmos e julgos, cansem uma certa hora. Nunca deixei de falar com nenhum deles - até dou bom dia quando os encontro na rua - mas será que chegamos a conversar alguma vez? Também me faço essa pergunta.

Nunca soube se ter "amigos de verdade" era bom ou não, mas ter amigos virtuais estou descobrindo que sim, nunca gostei tanto da frase : Oi, como vc está? Que recebo diariamente pela internet, coisa que os de carne e osso nunca fizeram.

Será que esta nova atmosfera social - a virtual - veio para salvar indivíduos como eu, não muito sociavéis? nao sei. Só sei que Elis Regina estava errada: Nós ainda somos os mesmos, mas com certeza não vivemos como nossos pais.

fevereiro 04, 2006

TRISTEMENTE ERRADO

Você tem sido minha amizade mais preciosa.
Mas agora sem o seu sorriso, sem o seu abraço,
não posso ir a você para me consolar,
porque estamos passando dos limites durante toda essa mudança...

Este sofrimento me surpreende.
Ele queima no meu estômago,
e não consigo parar de dar de cara com certas coisas.

Eu pensei que seríamos simples juntos,
Eu pensei que seríamos felizes juntos,
Pensei que seríamos sem limites juntos,
Eu pensei que seríamos preciosos juntos,
Mas eu estava tristemente errado...

Você tem sido minha alma gêmea e algo mais.
Eu lembro do momento em que conheci você...
Com você eu soube que a face de Deus era bela,
Com você eu vi diversão e contentamento.

Essa perda está me adormecendo
Ela atravessa meu peito,
e eu não consigo parar de desistir de tudo...

Pensei que estaríamos explorando juntos,
Pensei que estaríamos nos inspirando juntos,
Eu pensei que estaríamos voando juntos,
Pensei que estaríamos com raiva juntos,
Mas eu estava tristemente errado...

Se eu tivesse uma conta para todas as filosofias que eu
compartilhei,
Se eu tivesse um centavo para todas as possibilidades que eu
concedi,
Se eu tivesse uma moeda para cada mão jogada para o alto,
Minha riqueza poderia inverter isso sem menor gravidade...

Eu pensei que seríamos talentosos juntos,
Eu pensei que estaríamos nos curando juntos,
Eu pensei que estaríamos crescendo juntos,
Pensei que seríamos aventureiros juntos,
Mas eu estava tristemente errado...

Eu pensei que seríamos atraentes juntos,
Pensei que estaríamos evoluindo juntos
Eu pensei que teríamos filhos juntos
Eu pensei que seríamos uma família juntos
Mas eu estava tristemente errado...


letra de música, traduzida e adaptada. título original: simple together.
http://www.letras.mus.br

SINTO-ME COMO NIETZCHE



“Nasci no dia 31 de Dezembro de 1981. Faça as contas para saber quantos anos não tenho. Que "não tenho", sim; porque o número que vai encontrar se refere aos anos que não tenho mais, para sempre perdidos no passado. Os que ainda tenho, não sei, ninguém sabe...

Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma.
Ciência é fogo e panela : coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta...Quando jovem, Albert Camus disse que sonhava com um dia em que escreveria simplesmente o que lhe desse na cabeça. Estou tentando me aperfeiçoar nessa arte, embora ainda me sinta amarrado por algumas mortalhas acadêmicas e gramaticais.

Sinto-me como Nietzche, que dizia haver abandonado todas as ilusões de verdade. Ele nada mais era que um palhaço e um poeta. O primeiro nos salva pelo riso. O segundo pela beleza.

Com a literatura e a poesia comecei a realizar meu sonho quase fracassado de ser escritor: comecei a fazer textos com “palavras”. Leituras de prazer especial: Nietzche, T.S.Elliot, Kierkegaard, Camus, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Manoel de Barros. Pintura: Bosch, Brueghel, Grünnevald, Monet, Dali, Larsson.
Música: Canto Gregoriano, Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, César Franck, Keith Jarret, Milton, Chico, Tom Jobim.

Sou um tanto psicanalista, embora heterodoxo. Minha heterodoxia está no fato de que acredito que no mais profundo do inconsciente mora a beleza. Com o que concordam Sócrates, Nietzche e Fernando Pessoa (leia o poema "Eros e Psique", de Fernando Pessoa).
Exerço a arte com prazer. Minhas conversar com meus “eus” são a maior fonte de inspiração de que tenho para minhas crônicas e contos. Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho Tristeza. A vida é muito boa. Mas a Morte é minha companheira. Sempre conversamos e aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a Morte tem a dizer está condenado a ser tolo a vida inteira."



Livre adaptação do texto: Rubens Alves...por ele mesmo.

AQUELE CARA


Você já viu aquele cara que de tão tímido, mal olhava ou sequer olhou para cima algum dia, para o céu? Já observou que esse cara ao entrar num ônibus nem sequer olha para o lado, com medo do olhar amedrontador de todo aquele povo que ele nunca conheceu?

Aquele cara nunca ousou abordar qualquer pessoa que fosse, pois era tímido demais. Nunca ousou olhar no olho de nenhuma garota do colégio. Ela era linda, ele...não se sabe.

Aquele cara jamais saia para festas, clubes ou aniversários. Estar fora do quarto, para ele, era um absurdo. O seu eu-mundo estava no escuro onde dormia.

Aquele cara, ainda hoje, talvez seja inocente, imaturo para o mundo que o cerca.
Aquele cara no mínimo vivia para si só, porque assim ele era feliz. Aliás, ele sorriu algum dia? Era assim que ele vivia, acordava, dormia.

Aquele cara era eu.

fevereiro 03, 2006

O BOM SAMARITANO

Era um dia comum. Fui ao centro da cidade hoje com minha mãe. Perambulamos bastante por suas ruas estreitas, estávamos pesquisando alguns artigos para pintura artística — meu atual passatempo e subterfúgio terapêutico.

O que mais me impressionou nisso tudo foi o fato de ela — minha mãe — estar apoiando, a sua maneira, esse dote artístico. Sua reação ao ver minhas telas não foi a que eu esperava, ao contrário manteve-se neutra, absorta. Fato evidenciado no dito popular, que ela mesma pronunciava caso a perguntassem o que achava:

— É como .. de Guede, nem cheira e nem fede!
Perguntei-lhe em dado instante o motivo pelo qual estava me incentivando. Respondeu que porque sim. E mais nada. Aceitei, meio incrédulo.

Mesmo apesar de ela não me colocar em seus braços e me dizer:
— Muito bem filho. Estou muito orgulhosa por você ser um grande artista. Pelo menos para mim! Mesmo assim aceitei.

No entanto — a coisa do Guede — já era um grande começo em nossa relação, não tão mãe e filho assim. Só o fato de ela ter gastado seu suado dinheiro em algo que até agora não houve retorno, para mim já foi o suficiente. Considero esta a forma que ela sabe de me dar afeto materno.

Ao fim do dia, encontramos um velho conhecido meu — sabe aqueles dias em que não se quer encontrar ninguém? principalmente de longa data, ou até mesmo aqueles dias em que se reza para não encontrar tal pessoa? — pronto! Lá estava essa pessoa, a nossa frente.

Ele veio em nossa direção, nos parou, me cumprimentou e então deu um beijo na testa de minha mãe, como forma de cumprimento a esta.
Você sabe o que é alguém que é aos olhos de todos um bom samaritano? O tipo de pessoa, que se não fosse tamanho egoísmo e inveja, gostaríamos de ser? Era ele. E quem ele pensa que é?

Em todos esses vinte e poucos nunca beijei minha mãe nem sequer no rosto, que dirá na testa!
Fez-me sentir a pior pessoa do mundo, o pior filho do mundo. Maldito acaso!

CONSELHO: Nunca atravesse a vida sem olhar os dois lados antes. Pode ser que apareça um espertinho para lhe lembrar o quão podre e miserável você é, e ainda por cima ele pode dá um beijo na testa de sua mãe, a pessoa que você tem menos contato afetivo. Quando se gostaria que fosse o contrário.

texto de 2001

SAIR OU FICAR EM CASA?

Realmente não sei a que se resume a vida. Principalmente a minha.
Ontem resolvi sair de casa — como tinha feito no dia anterior. Queria me livrar da angustia, da solidão que escolhi para mim. As paredes e as salas vazias, todo o tempo me lembravam disso.

Pois bem, no meio da tarde recebi um telefonema, era um convite para uma festa de aniversário, a qual me animou a sair.

Pus um som, desses que se põe quando se quer animar e ter coragem para enfrentar a desgraça que é a vida sem a proteção de suas paredes e salas.

Enquanto ia no ônibus, não deixava de pensar na minha condição miserável de um jovem à deslizar pelos vinte, sozinho e sem amigos.
Dramas à parte, repetia para mim mesmo:

— vai ser bom você sair, esquecer um pouco quem você é! Mas quem sou eu?
O meu signo do zodíaco dizia que eu era livre para tudo, exceto tentar ser alguém que não sou.
Depois de lida esta frase, nunca mais pude esquece-la! E olha que eu nem se quer procurei a seção de horóscopos no jornal.

No entanto, como se não bastasse, ainda encontro também Drummond e sua dúvida:
O que é o homem? Que sonho, que sombra? Mas existe o homem?

Depois de tantos questionamentos filosóficos, concordei comigo mesmo que ia ser bom assistir um filme qualquer e esquecer a minha deprimente existência.

Se por um lado as paredes vazias de minha casa gritavam com seu silencio que sou um cara completamente sozinho, a rua seria ainda pior. E não é pelo seu barulho não!

Nem ir ao cinema hoje em dia se pode mais. Todos aqueles casaizinhos e beijinhos e apelidozinhos. Ao passo que achava a cena idiota, também me deprimia — no bom sentido — se é que existe se deprimir no bom sentido.

Aqueles jovens — em minha idade — vivendo, beijando, beijando, vivendo. E eu ali, na fila do cinema, tendo que assistir tudo isso. E o que é ainda pior; acabo encontrando um conhecido, que esfrega sua namorada na minha cara, visto que tinha notado que eu estava sozinho.

Enfim, tudo isso só me fez querer voltar para casa. Pelo menos ela era mais delicada em me dizer que sou um nada, e que não adianta sair dela, pois lá fora é ainda pior. Além de ouvir que você é um indivíduo anormal, também vê. Ou seja, dois sentidos reforçam melhor uma idéia do que um só. Logo, é melhor eu ficar em casa!

texto de 2001

FREITAS, O IMPERFEITO

Freitas era diferente. Quando nascera, os médicos logo pensaram:
— Nossa! Coisa igual não deve haver na face da terra.

Freitas quando ainda era criança percebia, mesmo de seu berço, que todos o olhavam diferente. O que será que eu tenho? Pensava aquela criança.

Freitas cresceu, tornou-se rapaz, mas ainda se perguntava o que o fazia diferente dos outros. Para ele era tudo muito estranho, não se via tão distante dos da sua idade assim. Mas ele sabia que havia algo errado.

— Meu Deus, o que será? Pensava.
Numa manhã de domingo, pensou em falar com sua mãe a respeito de tal assunto. Ela, notando o ar preocupado do filho — há muito tempo — apenas ignorava. O tratava como fazia sempre: Como um filho.

Freitas prosseguia com sua dúvida. Preferiu não desabafar com sua mãe.
Um dia Freitas, assustado com o modo com que todos o olhavam, decidiu ir desesperadamente para casa. Chegou. Pôs-se em frente ao espelho e olhou-se, como se nunca tivera feito antes. Tocou seu cabelo, deslizou sua mão pela face, observou o formato de sua boca, tocou a ponta de seu nariz e em seguida repetiu o gesto, mas desta vez no espelho. Pensava:

O que há de errado? Pareço tão normal: meu cabelo é duro e crespo, meu rosto é largo demais, meus olhos não combinam nem se encontram, meu nariz é pontudo e intimidador. Em que posso ser diferente? não entendo!

Freitas, no dia seguinte, levantou-se como de costume e seguiu o padrão: não escovou os dentes, não penteou o cabelo, vestiu meia branca de algodão com sapato social. Enfim, nada de novo.

Depois de pronto, olhou-se e brincou consigo: — Eu diria que hoje, na escala do PH, estou entre sete e quatorze (básico). Estava feliz. Havia esquecido por alguns segundos suas angústias, ou seja, havia perdido alguns milhares de elétrons (estava mais positivo).

Freitas saiu de casa, andou um pouco e encontrou novamente aqueles olhares. Lembrou-se outra vez que se sentia diferente. Inclinou a cabeça para baixo, em direção aos seus pés e subiu o olhar, analisando todo o corpo.

Mas como? Não há nada de errado. Pensou.
Avistou um amigo pela rua e ao se aproximar ouviu:

— Nossa, Freitas... Parabéns, como você se veste mal, e quão feio você é. Gostaria de ser assim. Sentiu-se mal com aqueles altivos elogios.
Será que é isso? Será que não sou não perfeito demais como deveria? Mas sempre fiz de tudo para ser como todo mundo.

Na escola, tornou a ouvir das meninas: Freitas você é demais. Como você não sabe ler tão bem, e não falar então, nem se fala...Ah! Freitas...
E ele se perguntou:

Será que eu sou um imperfeito tão perfeito assim? Sentia-se angustiado. Todos eram tão mais ou menos imperfeitos, ele não. Ele era perfeitamente imperfeito. E Freitas foi ganhando cada vez mais elétrons, dia-após-dia.

Certo dia retornou ao velho espelho e conseguiu ver o que antes não podia: um cabelo macio e liso, um rosto alinhado, simétrico, um olhar tão harmonioso que só o vira igual no rosto de crianças. E o nariz então... que regular, que bem posto, que bem desenhado. Deprimiu-se com essa visão.

— Era por isso. Todos aqueles olhares e elogios (na certa falsos). O que eu faço? Vejo-me igual ou diferente, de agora em diante?

Freitas enlouquece. Torna-se um eremita. Rasga sua face de canto a outro e passa a usar uma máscara. Refugia-se numa ilha deserta e nunca mais se sabe dele.

Freitas não queria ser João, ou Pedro, ou Marcos. Freitas só queria ser Freitas, o imperfeito.

CARO AMIGO...

Há muito tempo não nos falamos. Eu sei...eu sei que é difícil te achar aí neste seu mundo. Sei também que é muito difícil conversar com alguém. Pergunto-me hoje, se não te sentes infeliz. Tão sozinho, sem os teus demais.

Escrevo-te, pois também tenho esta dúvida, que ao contrário de te não vivo em meu mundo e muito menos sem os meus demais.
Acordei e me dei conta que existe algo muito pior do que estar só. É a escolha ente alguém e algo. Isso me sufoca de uma forma; que só as lágrimas — só estas mesmas — conseguem me entender. Às vezes, no entanto, não as controlo e elas caem...caem sem meu consentimento.

Quando se ama alguém com todas as letras maiúsculas e se quer muito alguma coisa. Parece-me, às vezes, que tudo é tão distante desse alguém. Penso, porém, se para que eu possa ter tais coisas, será preciso abdicar de quem se tanto...tanto quero. Se for assim, caro amigo, esta dúvida é ainda mais cruel. Conviver com a certeza de que eu fatalmente terei de escolher, em algum instante, entre uma coisa ou outra...é algo que só a morte seria a melhor delas.

Ninguém compreende a minha fuga. E não espero que tu também o faças. Pois aqui, neste mundo de todos nós, foge-se de várias maneiras. Escolhi a nicotina, talvez pensando que sumirei um dia envolto em sua fumaça... Talvez envolto em sua fumaça eu suma por um instante. Acredito, porém, que esse é o único momento que desapareço que não fico diante da dúvida.

Quando estou com minha amada: a quem posso olhar de cima, a quem vejo sem constrangimento todas as singularidades de seu rosto, a quem admiro a presença. Também me esqueço. Mas, só quando me afasto é que o corpo e a mente começam a sofrer e te digo caro amigo, se existe algo pior quero senti-lo.

Às vezes, penso num mundo onde eu possa ter uma bela família e uma bela carreira, onde eu não possa me importar com mais nada. Em outras, não me vejo... Não vejo com essa bela carreira, não me vejo com vida alguma. Mas sei também, que as duas coisas juntas nunca acontecerão.

Termino caro amigo, dizendo que também já fui só, sofri muito. Mas você, você construiu seu próprio mundo, sozinho, e se acostumou com ele. Mas a dúvida de não saber que caminho seguir, se posso construir alguma coisa , isso sim...isso sim é sufocante.

Ass: H.

fevereiro 02, 2006

VIDA, VIDA, SE EU ME CHAMASSE MARGARIDA SERIA UMA RIMA...

Parece que a vida anda em baixa, de novo, no meio de escritores jovens. Um saco, a vida.
Embora qualquer criança saiba o que é, não temos boas definições de vida, talvez por ser tão óbvia - é difícil definir o óbvio. Cristo dizia que a trazia consigo, junto com o Caminho e a Verdade. Buda agourava que só conseguimos nos livrar dela depois de rompida a famosa Roda de renascimentos e mortes. Darwin arriscava que era mutação. Um cara a quem admiro pelas boas definições disse que é "a modalidade de existência dos corpos albuminóides".

Não pensem que a pérola é de algum estudante de Biologia, é de Engels, no Anti-Dühring, filosofia marxista sobre o mundo orgânico. Vai ver que tentava evitar confusões com "dom divino", essas coisas, sempre tento aliviar pro lado de Engels mas a definição é lamentável. Para Bandeira, por dedução, era a "desejada das gentes"; o que não espanta porque Bandeira era tuberculoso e já nasceu de óculos.Embora não definida, a vida é - indubitavelmente - protegida no Estado moderno, a começar pelas Constituições. Supõe-se que a aludida seja a humana, mas também são protegidas a vida das baleias, do mico-leão e do pau-brasil.

Fora o voto dos escritores jovens, a vida é eleita por unanimidade.Não foi sempre assim. Esta proteção, que nos parece tão natural, é relativamente recente na História, outros bens foram tutelados antes da vida. A alma. A propriedade, sempre. O próprio corpo sem vida foi protegido antes de que se pensasse em apoiar o direito à vida. Quem não viu representada a tragédia da filha do herói, que desafiou o poder para dar sepultura ao irmão?Mas, hoje, a vida é mais do que um direito: é um dever. O que talvez seja um perigo. Quando transformamos o relativo em absoluto, eliminamos as oposições externas e as contradições internas começam a ser geradas. A desvalorização da vida é uma reação à obrigatoriedade da vida.

A filosofia existencial do ser e do nada foi formulada e ficcionalizada na Europa antes da guerra: - Terça-feira. Nada. Existi. - Silenciou nos anos 40 porque os jovens filósofos deviam estar sofrendo de medo, indignação, revolta, tudo menos tédio e nojo, e muito ocupados em salvar a própria pele. A possibilidade da morte dá significado à vida.Voltou nos fifties, na América, quando James Dean fazia "pegas" de blusão de couro, topete e costeleta, junto com outros outsiders, arriscando a vida por nada; era o retorno do nada. Rebel without a cause foi toda uma geração - e a causa que faltava não era só um princípio inaugural mas uma ideologia.

As décadas se sucederam e, neste meio-tempo, os hippies cantaram make love, not war: rolava a guerra do Vietnam, Eros e Tânatos voltavam a atuar juntos, amor e guerra se opunham, a velha dialética era restabelecida e parece que foram tempos felizes. Ou, ao menos, coerentes: queimavam as convocações de alistamento, deixavam o cabelo crescer e a luz do sol entrar, os tempos eram de Aquarius e ninguém queria morrer antes de ver a new age chegar. A paz garantiu o surgimento dos punks e a popularização da droga pesada, o mundo começou a ficar escuro. O Universo conspirou, veio a Aids. No final dos 80, Cazuza gemia: Ideologia, eu quero uma pra viver.O cotidiano é alienante. Viver para trabalhar e consumir, trabalhar e consumir para viver, viver para trabalhar e consumir, foi o círculo absurdo criado pela sociedade do Ocidente e os jovens exumaram o falecido tédio e seus corolários: o mais grave deles, a desvalorização da vida.

Com certa razão, nenhuma griffe compensa a "pena de viver" - é preciso mais, muito mais.É claro que estamos falando do jovem ocidental, de classe média e com algum acesso à cultura. Talvez no Oriente Médio seja diferente. Lá, hoje, eles têm causas que valem uma vida. E porque ela é ameaçada todos os dias e porque eles a sacrificam por uma causa, talvez acreditem que a vida é mesmo o bem supremo. Será enquanto não for.Portanto, jovens entediados do decadente mundo ocidental, providenciai urgentemente uma ideologia - pela qual matareis e morrereis - para não morrer de vida. Só está pronto para viver quem está pronto para morrer e vida pode ser, mesmo, doença mortal.