março 31, 2006

CARTA AO PRESIDENTE

Caro Sr. Presidente da República Federativa do Brasil.Venho por meio desta comunicação manifestar meu total apoio ao seu esforçode modernização do nosso país.


Como cidadão comum, não tenho muito mais aoferecer além do meu trabalho, mas já que o tema da moda é ReformaTributária, percebi que posso definitivamente contribuir mais. Vouexplicar:Na atual legislação, pago na fonte 27,5% do meu salário.


Como pode ver, souum brasileiro afortunado. Sou obrigado a concordar que é pouco dinheiro parao governo fazer tudo aquilo que promete ao cidadão em tempo de campanhaeleitoral.Mesmo juntando ao valor pago por dezenas de milhões de assalariados!


Minha sugestão, é invertermos os percentuais.A partir do próximo mês autorizo o Governo a ficar com 72,5% do meu salário.Portanto, eu receberia mensalmente apenas 27,5% do resultado do meu Trabalhomensal.Funcionaria assim:


Eu fico com 27,5% limpinhos, sem qualquer ônus.O Governo fica com 72,5% e leva as contas de:-Escola,-Convênio médico,-Despesas com dentista,-Remédios,-Materiais escolares,-Condomínio,-Água,-Luz,-Telefone,-Energia,-Supermercado,-Gasolina,-Vestuário,-Lazer,-Pedágios,-Cultura,-CPMF,-IPVA,-IPTU,-ISS,-ICMS,-IPI,-PIS,-COFINS,-Segurança,-Previdência privada e qualquer taxa extra que por ventura sejarepentinamente criada por qualquer dos Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário.


Um abraço Sr. Presidente e muito boa sorte, do fundo do meu coração!Ass: Um trabalhador que já não mais sabe o que fazer para conseguirsobreviver com dignidade.PS: Podemos até negociar o percentual !!!Agora vejam só a farra do Congresso


Nacional :Salário:.......................................R$ 12 milAuxílio-moradia................................R$ 3 mil;Verba para despesas "comprovadas...............R$ 7 mil;Verba para assessores..........................R$ 3,8 mil;Para 'trabalharem' no recesso..................R$ 25,4 mil;Verba de gabinete mensal.......................R$ 35 mil;


Transporte: Passagens aéreas de ida e volta a Brasília/mês;]Direito a "contratar" 20 servidores para seu gabinete;13º e 14º salários, no fim e no início de cada ano legislativo; e 90 dias deférias anuais e folga remunerada de 30 dias.ISSO PARA CADA UM DOS


514 DEPUTADOS !!!!Esse dinheiro sai dos cofres públicos, ou seja, do nosso bolso !!!Mostre sua indignação e envie este texto a todos os seus amigos e conhecidospara que protestem junto aos deputados federais e senadores.TENHA SANTA PACIÊNCIA! ! ! !


E-mail que recebi de um amigo, achei interessante.

março 29, 2006

NO DIA EM QUE EU MORRER


Este é um testemunho para minha vida inteira (ou pelo menos enquanto esta página estiver publicada). Quero revelar a vocês que me conhecem e aos que não me conhecem que no dia em que eu morrer e entre os lamentos de alguém (se houver) ouvirem algo do tipo:


--Ele sempre foi tão bom.
--Ele tinha tantos amigos.
--Ele foi um ótimo filho, sempre amou a família.


Se por acaso ouvirem isso, por favor desconsiderem. Para os os que me conhecem(ou pensam que sim) eu vos digo:


Nunca fui tão bom assim, nem com os outros , nem comigo; na verdade às vezes sou até ruim quando quero. Não sei a quem estou dirigindo estas palavras, pois sei que nunca tive e certamente jamais terei muitos amigos (aliás, esta palavra é meio controversa para mim). Emfim, nunca fui um tal com muitos amigos, mas não me arrependo por não ser diferente, acostumei-me assim.


Nunca fui um bom filho, por que nunca soube exercer este papel, poderia fazê-lo agora, mas não consigo, não consigo forçar-me. Nunca amei o que chamam de família , por que nunca soube como era, mas sempre almejei tê-la. Amo meus consanguíneos(pelo menos os mais próximos)
mas não tanto a ponto de rejeitar uma opurtunidade de deixa-los se assim convier meu destino.


Se ouvirem ou lerem algo assim sobre mim, eu vos digo: nunca foi verdade, como talvez também estas palavras não sejam. Esta é uma carta para dizer que ainda não achei o que procuro, mas também não temo se eu morrer e não conseguir achar.


Tudo o que eu me lembro até agora é que eu queria ter sido como a água, que mesmo ínfima diante de uma rocha consegue atravessá-la, ou mesmo diante de um obstáculo sempre consegue descobrir novos rumos. Nunca fui água, às vezes fui rocha, mas tenho certeza de que sempre fui um obstáculo, afinal, como dizia Frank Sinatra, em uma de suas cançoes, EU FIZ MEU PRÓPRIO CAMINHO.

março 26, 2006

PALAVRAS QUE EU QUERIA TER ESCRITO...

Depois da cinza morta destes dias,
Quando o vazio branco destas noites
Se gastar, quando a névoa deste instante
Sem forma, sem imagem, sem caminhos,
Se dissolver, cumprindo o seu tormento,
A terra emergirá pura do mar
De lágrimas sem fim onde me invento.


POR SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

TUDO TORNOU-SE NEGRO

Vários quadros sem pintura,
peças intocadas de argila,
foram dispostas diante de mim,
como seu corpo um dia esteve.

Todos os cinco horizontes girando ao redor de sua alma.
como a terra ao redor do sol.
agora o ar que eu provei e respirei mudou de rumo

E tudo que eu te ensinei era tudo
eu sei q você me deu tudo o que pudia...
e agora minhas amargas maos
se arranham para alcançar as nuvens
o que era tudo?


As imagens foram banhadas em preto,
tatuando tudo...(marcando para sempre)
eu dou uma caminhada a fora
sou cercado por algumas crianças brincando,
eu posso sentir suas risadas,
então por que eu desanimo?


E os pensamentos confusos giram minha cabeça,
estou girando,
quão rápido o sol pode cair,
e agora minhas amargas maos,
seguram vidros quebrados.


O que era tudo?
todas as imagens se foram,
todas banhadas em preto,
marcando para sempre...

Todo o amor tornou-se mal,
tornou meu mundo negro,
marcando tudo que vejo,
tudo o que sou,
tudo o que sempre serei...


Eu sei que algum dia você terá uma linda vida,
e eu sei que você será uma estrela,
no céu de outro alguém,
mas por que, por que...


...Por que, por que não pode ser no meu?


Letra traduzida da música "Black" do Pearl Jam.

"POR QUE NÃO NASCI EU UM SIMPLES VAGA-LUME?"

Bailando no ar gemia inquieto vaga-lume:
--"Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela , fitando a lua, com ciúme:


--Pudesse eu copiar a transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:


--"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:


--Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
enfara-me esta azul e desmedida umbela...
por que não nasci eu um simples vaga-lume?"


Poema de Machado de Assis entitulado: "Círculo Vicioso"
Especial atenção ao pessimismo machadiano.

março 20, 2006

O PEDIATRA - NELSON RODRIGUES

Saiu do telefone e anunciou para todo o escritório:— Topou! Topou!Foi envolvido, cercado por três ou quatro companheiros. O Meireles cutuca:— Batata?Menezes abre o colarinho: — "Batatíssima!".


Outro insiste:— Vale? Justifica?Fez um escândalo:— Se vale? Se justifica? Ó rapaz! É a melhor mulher do Rio de Janeiro! Casada e te digo mais: séria pra chuchu!Alguém insinuou: — "Séria e trai o marido?".


Então, o Menezes improvisou um comício em defesa da bem-amada:— Rapaz! Gosta de mim, entende? De mais a mais, escuta: o marido é uma fera! O marido é uma besta!Ao lado, o Meireles, impressionado, rosna:— Você dá sorte com mulher! Como você nunca vi! — E repetia, ralado de inveja: — Você tem uma estrela miserável!


Há três ou quatro semanas que o Menezes falava num novo amor imortal. Contava, para os companheiros embasbacados: — "Mulher de um pediatra, mas olha: — um colosso! ". Queriam saber: — "Topa ou não topa?".


Esfregava as mãos, radiante:— Estou dando em cima, salivando. Está indo.Todas as manhãs, quando o Menezes pisava no escritório, os companheiros o recebiam com a pergunta: — "E a cara?". Tirando o paletó, feliz da vida, respondia:— Está quase.


Ontem, falamos no telefone quatro horas! Os colegas pasmavam para esse desperdício: - "Isso não é mais cantada, é ...E o vento levou". Meireles sustentava o princípio que nem a Ava Gardner, nem a Cleópatra justificam quatro horas de telefone. Menezes protestava:— Essa vale!


Vale, sim senhor! Perfeitamente, vale! E, além disso, nunca fez isso! É de uma fidelidade mórbida! Compreendeu? Doentia!E ele, que tinha filhos naturais em vários bairros do Rio de Janeiro, abandonara todos os outros casos e dava plena e total exclusividade à esposa do pediatra.


Abria o coração no escritório:— Sempre tive a tara da mulher séria! Só acho graça em mulher séria!
Finalmente, após quarenta e cinco dias de telefonemas desvairados, eis que a moça capitula.


Toda a firma exulta. E o Menezes, passando o lenço no suor da testa, admitia: — "Custou, puxa vida! Nunca uma mulher me resistiu tanto!". E, súbito, o Menezes bate na testa:— É mesmo! Está faltando um detalhe!


O apartamento! Agarra o Meireles pelo braço: — "Tu emprestas o teu?". O outro tem um repelão pânico:— Você é besta, rapaz! Minha mãe mora lá! Sossega o periquito!Mas o Menezes era teimoso. Argumenta:— Escuta, escuta! Deixa eu falar.


A moça é séria. Séria pra burro. Nunca vi tanta virtude na minha vida. E eu não posso levar para uma baiúca. Tem que ser,olha: — apartamento residencial e familiar. É um favor de mãe pra filho caçula.


O outro reagia: — "E minha mãe? Mora lá, rapaz!". Durante umas duas horas, pediu por tudo:— Só essa vez. Faz o seguinte: — manda a tua mãe dar uma volta. Eu passo lá duas horas no máximo!


Tanto insistiu que, finalmente, o amigo bufa:— Vá lá! Mas escuta: — pela primeira e última vez! Aperta a mão do companheiro:— És uma mãe!
Pouco depois, Menezes ligava para o ser amado: — Arranjei um apartamento genial.Do outro lado, aflita, ela queria saber tudinho: "Mas é como, hein?".


Febril de desejo, deu todas as explicações: — "Um edifício residencial, na rua Voluntários. Inclusive, mora lá a mãe de um amigo. Do apartamento, ouve-se a algazarra das crianças". Ela, que se chamava Ieda, suspira:— Tenho medo!


Tenho medo!Ficou tudo combinado para o dia seguinte, às quatro da tarde. No escritório, perguntaram:— E o pediatra?Menezes chegou a tomar um susto. De tanto desejar a mulher, esquecera completamente o marido.


E havia qualquer coisa de pungente, de tocante, na especialidade do traído, do enganado. Fosse médico de nariz e garganta, ou simplesmente de clínica geral, ou tisiólogo, vá lá. Mas pediatra!


O próprio Menezes pensava: — "Enquanto o desgraçado trata de criancinhas, é passado pra trás!". E, por um momento, ele teve remorso de fazer aquele papel com um pediatra. Na manhã seguinte, com a conivência de todo o escritório, não foi ao trabalho.


Os colegas fizeram apenas uma exigência: — que ele contasse tudo, todas as reações da moça. Ele queria se concentrar para a tarde de amor. Tomou, como diria mais tarde, textualmente, "um banho de Cleópatra". A mãe, que era uma santa, emprestou-lhe o perfume.


Cerca do meio-dia, já pronto e de branco, cheiroso como um bebê, liga para o Meireles:— Como é? Combinaste tudo com a velha?— Combinei. Mamãe vai passar a tarde em Realengo. Menezes trata de almoçar. "Preciso me alimentar bem", era o que pensava.


Comeu e reforçou o almoço com uma gemada. Antes de sair de casa, ligou para Ieda:— Meu amor, escuta. Vou pra lá. E ela:— Já?Explica:— Tenho que chegar primeiro. E olha: vou deixar a porta apenas encostada. Você chega e empurra.


Não precisa bater. Basta empurrar.Geme: — "Estou nervosíssima!".E ele, com o coração aos pinotes:— Um beijo bem molhado nesta boquinha.— Pra ti também.
Às três e meia, ele estava no apartamento, fumando um cigarro atrás do outro. Às quatro, estava junto à porta, esperando.


Ieda só apareceu às quatro e meia. Ela põe a bolsa em cima da mesa e vai explicando:— Demorei porque meu marido se atrasou. Menezes não entende: — "Teu marido?", e ela:— Ele veio me trazer e se atrasou. Meu filho, vamos que eu não posso ficar mais de meia hora.


Meu marido está lá embaixo, esperando.Assombrado, puxa a pequena: — "Escuta aqui. Teu marido? Que negócio é esse? Está lá embaixo! Diz pra mim: — teu marido sabe?". Ela começou:— Desabotoa aqui nas costas. Meu marido sabe, sim.


Desabotoa. Sabe?! claro.Desatinado, apertava a cabeça entre as mãos: — "Não é possível! Não pode ser! Ou é piada tua?". Já impaciente, Ieda teve de levá-lo até a janela. Ele olha e vê, embaixo, obeso e careca, o pediatra. Desesperado, Menezes gagueja: — "Quer dizer que...".


E, continua: "Olha aqui. Acho melhor a gente desistir. Melhor, entende? Não convém. Assim não quero".Então, aquela moça bonita, de seio farto, estende a mão:— Dois mil cruzeiros. É quanto cobra o meu marido. Meu marido é quem trata dos preços. Dois mil cruzeiros.Menezes desatou a chorar.

março 19, 2006

TRISTEZA DO INFINITO


Anda em mim, soturnamente, uma tristeza ociosa, sem objetivo, latente, vaga, indecisa, medrosa. (...)Uma tristeza que eu, mudo, fico nela meditando e meditando, por tudo e em toda a parte sonhando.

Tristeza de não sei donde, de não sei quando nem como... flor mortal, que dentro esconde sementes de um mago pomo. Dessas tristezas incertas, esparsas, indefinidas...

como almas vagas, desertas no rumo eterno das vidas. Tristeza sem causa forte, diversa de outras tristezas, nem da vida nem da morte gerada nas correntezas...

(...)Dessas tristezas sem fundo, sem origens prolongadas, sem saudades deste mundo, sem noites, sem alvoradas. Que principiam no sonho e acabam na Realidade, através do mar tristonho desta absurda Imensidade.

Certa tristeza indizível, abstrata, como se fosse a grande alma do Sensível magoada, mística, doce. Ah! tristeza imponderável, abismo, mistério, aflito, torturante, formidável...

ah! tristeza do Infinito!

(Cruz e Sousa)

março 18, 2006

APRENDER A PENSAR É DESCOBRIR O OLHAR

A diferença entre ver e olhar é tanto uma distinção semântica que se torna importante em nossos sofisticados jogos de linguagem tomados da tarefa de compreender a condição humana – e, nela, especialmente as artes –, quanto um lugar comum de nossa experiência.

Basta pensar um pouco e a diferença das palavras, uma diferença de significantes, pode revelar uma diferença em nossos gestos, ações e comportamentos.

Nossa cultura visual é vasta e rica, entretanto, estamos submetidos a um mundo de imagens que muitas vezes não entendemos e, por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O tema ver-olhar – antigo como a filosofia e a arte – torna- se cada vez mais fundamental no mundo das artes e estas o território por excelência de seu exercício.

Mas se as artes nos ensinam a ver – olhar, é porque nos possibilitam camuflagens e ocultamentos. Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar.

Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expressão olhar para afirmar uma outra complexidade do ver. Quando chamo alguém para olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquanto ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso.

Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade do ver torna-o um evento objetivo. Vê-se um fantasma, mas não se olha um fantasma.

Vemos televisão, enquanto olhamos uma paisagem, uma pintura.A lentidão é do olhar, a rapidez é própria ao ver. O olhar é feito de mediações próprias à temporalidade.

Ele sempre se dá no tempo, mesmo que nos remeta a um além do tempo. Ver, todavia, não nos dá a medida de nenhuma temporalidade, tal o modo instantâneo com que o realizamos. Ver não nos faz pensar, ver nos choca ou nem sequer nos atinge.

As mediações do olhar, por sua vez, colocam-no no registro do corpo: no olhar – ao olhar - vejo algo, mas já vitimado por tudo o que atrapalha minha atenção retirando-a da espécie sintética do ver e registrando- a num gesto analítico que me faz passear por entre estilhaços e fragmentos a compor – em algum momento – um todo.

O olhar mostra que não é fácil ver e que é preciso ver, ainda que pareça impossível, pois no olhar o objeto visto aparece em seus estilhaços de ser e só com muito custo é que se recupera para ele a síntese que nos possibilita reconstruir o objeto.

É como se depois de ver fosse necessário olhar, para então, novamente ver. Há, assim, uma dinâmica, um movimento - podemos dizer - um ritmo em um processo de olhar-ver.

Ver e olhar se complementam, são dois movimentos do mesmo gesto que envolve sensibilidade e atenção.O olhar diz-nos que não temos o objeto e, todavia, nos dispõe no esforço de reconstituí-lo. O olhar nos faz perder o objeto que visto parecia capturado.

Para que reconstituí-lo? Para realmente captura-lo. Mas essa captura que se dá no olhar é dialética: perder e reencontrar são os momentos tensos no jogo da visão.

Há, entretanto, ainda outro motivo para buscar reconstruir o objeto do olhar: para não perder além do objeto, eu mesmo, que nasço, como sujeito, do objeto que contemplo – construo enquanto contemplo. Olhar é também uma questão de sobrevivência.

Ver, por sua vez, nos liberta de saber e pode nos libertar de ser. Se o olhar precisa do pensamento e ver abdica dele, podemos dizer que o sujeito que olha existe, enquanto que o sujeito que vê, não necessariamente existe.

Penso, logo existo: olho, logo existo. Eis uma formulação para nosso problema. Mas se não existo pelo ver, não estou implicado por ele nem à vida, nem à morte. Ver nos distancia da morte, olhar nos relaciona a ela.

O saber que advém do olhar é sempre uma informação sobre a morte. A morte é a imagem. A imagem é, antes, a morte. Ver não me diz nada sobre a morte é apenas um primeiro momento. Ver é um nascimento, é primeiro.

O olhar é a ruminação do ver: sua experiência alongada no tempo e no espaço e que, por isso, nos instaura em outra consistência de ser. Por isso, nossa cultura hipervisual dirige-se ao avanço das tecnologias do ver, mas não do olhar.

É natural que venhamos a desenvolver uma relação de mercadoria com os objetos visualizáveis e visíveis. O olhar implica, de sua parte, o invisível do objeto: a coisa. Ele nos lança na experiência metafísica. Desarvoranos a perspectiva, perturba-nos.

Por isso o evitamos. Todavia, ainda que a mediação implicada no olhar faça dele um acontecimento esparso, pois o olhar exige que se passeie na imagem e esse passear na imagem traça a correspondência ao que não é visto, é o olhar que nos devolve ao objeto – mas não nos devolve o objeto - não sem antes dar-nos sua presença angustiada.

O olhar está, em se tratando do uso filosófico do conceito, ligado à contemplação, termo que usamos para traduzir a expressão Theorein, o ato do pensamento de teor contemplativo, ou seja, o pensar que se dá no gesto primeiro da atenção às coisas até a visão das idéias tal como se vê na filosofia platônica.

Paul Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos aquilo que vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo.

O que se mostra só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que o objeto nos impede de ver.

Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz pensar. Então, olhamos para ela e vemos.

Márcia Tiburi - Filósofa

A RUA LAMACENTA

A propósito do feriadão cristão que nos levou ao mar, à montanha ou simplesmente à vagabundagem por quatro benditos dias, lembrei de Buda - que falava de maneira semelhante a Cristo.Cristo disse: Não pode uma árvore boa dar maus frutos nem uma árvore má dar frutos bons.

Pelos frutos, a conhecereis.Buda disse: Não importa o que o homem faça, seus atos servem à virtude ou ao vício. Toda ação acarreta frutos.Os dois falavam de uma velha lei do hinduísmo - anterior portanto ao budismo e ao cristianismo - a lei do karma, que regula a "ação e a reação, a causa e o efeito".

Na verdade, o karma é uma lei natural, a semente que germina é karma, mas o budismo a formulou como: "O que somos hoje é o resultado dos pensamentos de ontem. O que seremos amanhã é o resultado dos pensamentos de hoje".

E Buda também disse que "o homem é aquilo que pensa que é".Gosto de fundamentar algumas afirmações dizendo que Buda disse antes. Como ninguém sabe ao certo tudo que Buda disse, o respaldo de Buda dá credibilidade ao que quero dizer.

Mas Buda disse mesmo que "o homem é o que pensa e acaba se tornando o que pensou". Ou seja, que a realidade do homem é decorrente da representação que ele faz de si mesmo e de terceiros.

Seus pensamentos acabam gerando suas circunstâncias, logo, seus sofrimentos são fruto dos pensamentos que carrega. O budismo é uma doutrina interessante porque em nenhum momento fala de Deus nem afirma a sua existência.

Não é uma metafísica. A preocupação do budismo é com o homem e o sofrimento do homem.O príncipe Sidartha Gautama aos 29 anos deixou o seu palácio, abandonou mulher e filho, e foi peregrinar pelo mundo em busca de sabedoria.

No princípio seguiu uns monges mendicantes e passou um bom tempo a jejuar mas desistiu da mortificação quando constatou que ela só aumentava o apego. Começou a caminhar, observar e meditar sozinho e, muitos anos depois, se "iluminou": tornou-se um Buda, um "desperto".


Para Buda tudo é Maya, ilusão. Só existe um lugar: o aqui. Só existe um tempo: o agora. A realidade está restrita ao momento presente e sua primeira descoberta foi a impermanência: Tudo muda, de estados físicos a pensamentos.

O que parece existir apenas flui e pessoas e sentimentos são transitórios. Nada pode ser considerado fixo, nem a verdade. O que se deve buscar é um nível de compreensão adequado para o que somos agora, porque amanhã não seremos o que somos hoje.

Não devemos nos apegar ao transitório, somente permanece em nós o Atman - a alma imortal. Mas acumulamos karma a vida inteira porque carregamos todo o passado conosco. Assim, o primeiro ensinamento de Buda é evitar o apego.

Carregar erros e acertos passados impede que a atenção se fixe no presente, a única realidade, o único momento em que podemos zerar o karma. Quem carrega o passado não consegue produzir bons frutos.Os budistas zen têm maneiras interessantes de passar suas lições.

Usam "koans". O koan é uma história curta que traz em si uma sabedoria nem sempre evidente e meditar sobre os koans é aprendizado. O zen é a vertente japonesa do budismo e os japoneses são minimalistas.

O hai-kai e o koan são minimalistas e alguns são incompreensíveis. Mas um dos mais evidentes é o koan da Rua Lamacenta:"Dois monges peregrinos passavam por uma cidade e encontraram uma jovem que hesitava em atravessar uma rua lamacenta com medo de sujar as roupas.

Um dos monges pegou a mocinha no colo e carregou-a até o outro lado da rua. Continuaram a caminhar calados até que a noite chegou e se abrigaram numa hospedaria.

Quando se sentaram para jantar um dos monges não agüentou e censurou o companheiro: - Não se espera que um monge budista carregue lindas mocinhas no colo.

Jantaram em silêncio, porque as histórias budistas são recheadas de silêncio, e quando terminaram o outro respondeu: - Eu só carreguei a mocinha até o outro lado da rua lamacenta."

Embora treinados na mesma doutrina, um dos monges largou a mocinha do outro lado da rua, o outro a carregou por um dia inteiro. O bem ou o mal, depositados do outro lado da rua, perdem grande parte do valor que atribuímos a eles.

Quando a depositamos no outro lado da rua lamacenta, a mocinha deixa de existir. E não é sábio fazer a caminhada carregando a mocinha.

Texto que li em um blog.

março 16, 2006

UMA PESSOA MAIS OU MENOS


" A gente pode
Morar numa casa mais ou menos,
Numa cidade mais ou menos,
E até ter um governo mais ou menos.


A gente pode
Dormir numa cama mais ou menos,
Comer um feijão mais ou menos,
Ter um transporte mais ou menos,
E ate ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.


A gente pode
Olhar em volta e sentir que tudo está
Mais ou menos.
Tudo bem...
O que a gente não pode mesmo,nunca,de jeito nenhum,
É amar mais ou menos,
É sonhar mais ou menos,


É ser amigo mais ou menos,
É namorar mais ou menos,
É ter fé mais ou menos,
É acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar
Uma pessoa mais ou menos".

Chico Xavier

À MINHA AMADA TERESA


Era noite, chovia muito. entrei em casa e logo depois disso notei a sala vazia. Era um silêncio ensurdecedor. Pus o casaco, ainda molhado, em cima do sofá, fechei o guada-chuva e o pus encostado à porta.

Adentrei a sala, olhei...de um canto a outro e nao a achei.
Na cozinha, não havia nada sobre a mesa. Olhei o armario; e em seguida a pia...e nao me espantei com a pilha de louça ainda por lavar. Também não a encontrei.

Procurei nos fndos da casa, mas só havia o escuro e os caes. Percorri o quarto de casal - no escuro mesmo - e nada dela. Preocupei-me por um segundo.

Fui até meu quarto - único cômodo a procurar - e a avistei logo da porta, que estava entre - aberta.

Estava proxima a janela, parecia apreciar a lua que não via no céu nublado. no entanto, deletei-me em ver a pouca luz desse luar cobrir Theresa por completo. Iluminando-a.

Notei que também ela me havia visto, porém, nada pronunciou. Entendi.
Aproximei-me e com os labios cerrados, a acariciei. Ela, no entanto, estava fria. Não se mexeu.

Sentei-me numa cadeira junto a ela, tirei seu manto e continuei a tocá-la. Percorri meus dedos por todos os seus; e por fim encontrei uma pequena farpa. Tirei-a. Tornou-se a brilhar.

Todas as noites quando chego, vou ver Theresa junto à janela. Sei que ela me espera. Só tenho Theresa e ela a mim.

Todas as noites volto a tocar Theresa. Toco-a de A à Z.
Theresa fala através de mim e quão sincera ela é. Está velha, descascando. Theresa sofre se não a toco - Não sofra Theresa.

No início ela não me sorria, agora nós dois sorrimos...sempre...sempre que a toco. Por isso, todas as noites volto a tocar Theresa junto à janela. E ela a mim.
Obrigado Theresa...Minha máquina de escrever.

março 14, 2006

VOCÊ TEM SAUDADE DE QUÊ?


"Ah, que saudade que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais".


Casimiro de Abreu - Poeta das Saudades.

DETALLE DE LA MOSCA


As mulheres reclamam que, nós homens, costumeiramente estamos sujando o banheiro quando usamos o sanitário para urinar.

E, pelo visto, essa fama de má pontaria corre o mundo. No aeroporto Schiphol de Amsterdã, na Holanda, o problema foi resolvido. Desenharam uma mosca dentro do vaso e o resultado surgiu imediatamente.

Depois da idéia, os chamados "danos colaterais" foram reduzidos em 80 por cento. Agora, as autoridades resolveram implantar a idéia em outros locais públicos.




Coriosidades de um blog.

SÓ PODIA SER NO BRASIL



CLIQUE NA FOTO PARA LER OS DETALHES.

CINEMA É UM NADA A VER...

O vilão é sempre um estrangeiro. O vilão sempre parece morto, mas nunca o está. Sempre seram concedidas a ele uma ou duas ressurreições. Quando vilão captura o herói, conta a ele todos os detalhes do seu plano para destruir e/ou conquistar a Terra, incluindo os horários, as datas e os locais. O vilão quando finalmente consegue capturar o herói, tem uma recaída de camaradagem e planeja um método de execução que dá ao herói tempo suficiente para conseguir escapar.

Os vilões dos anos 40 e 50 são os alemães, nos anos 60 e 70 são os asiáticos , nos anos 70 e 80 são os soviéticos e nos anos 90 são os terroristas do Oriente Médio. Uma caixa de cigarros no bolso da camisa, uma medalha, ou algum outro objetos pode bloquear um tiro e salvar a vida do herói. Durante uma luta em um local fechado, alguém sempre é atirado por uma janela ou vidraça.


O vendedor de armas é sempre roubado com suas próprias armas. Todos os asiáticos são mestres em artes marciais. A pessoas que tem os maiores planos e sonhos, sempre morre primeiro durante a guerra. Quando um herói e um vilão estão lutando, eles sempre se tornam superhumanos, eles podem levar chutes na cabeça, cinqüenta socos na cara que continuarão lutando.


No meio de uma perseguição de carros, há sempre dois homens carregando uma vidraça (que acaba estraçalhada por um dos carros). O herói pode contar quantas balas o inimigo atirou, ele sempre sabe quando o cartucho está vazio. Fugitivos sempre encontram uniformes (ou roupas comuns) com o seu número de manequim. Um herói escondido, que faz algum barulho é sempre salvo por um gato. Um policial sempre consegue arrombar uma porta trancada na primeira tentativa.


Heróis do esporte sempre conseguem encontrar a sua amada no meio de 100.000 espectadores. Há sempre Coca-Cola no futuro. As memórias sempre aparecem em preto e branco. Mulheres sexualmente satisfeitas sempre aparecem com os cabelos soltos. Um fósforo na escuridão sempre fornece a luz de um holofote.


Criaturas do espaço falam inglês. Cachorros sempre lambem a face de uma pessoa boa, e sempre latem para uma má. As pessoas sempre estão tomando banho quando uma mensagem importante é gravada na secretária eletrônica. Um mudo, um cego ou um surdo na maior parte das vezes são testemunhas de um assassinato. Uma mulher inteligente sempre usa óculos. Sempre há um lugar vazio ao lado de uma pessoa sentada em um banco em um local público, como uma praça por exemplo.


Cartões de crédito e grampos funcionam perfeitamente em fechaduras. Elevadores estão sempre no andar onde está o herói ou o vilão para leva-lo à qualquer outro andar, mas se o herói está sendo caçado o elevador nunca vem. Se o herói ou o vilão durante uma perseguição pega um elevador, o outro consegue alcança-lo pelas escadas, mesmo que tenha que subir 20 andares. Relâmpagos e trovões sempre ocorrem ao mesmo tempo.


Nenhuma criança pode morrer... mesmo se ela for eletrocutada por um fio de alta tensão capaz de matar um dinossauro (Jurassic Park). Se você pegar um taxi cinematográfico não perca tempo esperando pelo troco. Os motoristas nem sabe o que é isso, apenas diga obrigado. Quando pagar a conta de um restaurante pegue uma nota qualquer em sua carteira sem olhar e pague.

QUALQUER QUE SEJA

"Qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te tornes forte e ilustre ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum".



Machado de Assis

março 09, 2006

"NUNCA MAIS VOLTEI AO TRONO"

vou te contar uma historia venéria...
bom , tava eu esperando minha mãe para fazer as compras do mês, quando derrepente... começa akele velha conversa fora de hora, do seu estomago com suas tripas, me entende neh? akele feijao q não bateu bem na noite anterior...


eu jah tava fazendo cruz nas pernas de tanta dor, comecei ateh a soprar, sabe respiração cachorrinho?, hhehehehehe...pois eh ateh isso.
nessa hr aparece uma colega de faculdade aí eu pensei:FUDEU!
e se vier um gás? akele gás...e ela começou a falar do carnaval q tinha viajado , coisa e tal ....e eu jah roxo de dor, soh balançando a cabeça e dizendo q sim.


depois de alguns instantes de reza(nessas hrs qulaquer ateu apela)tudo bem, ela foi embora e entao a dor passou e eu respirei aliviado, olhei pro meu estomago e falei: isso nao te pertence mais! la la la la.


minha mae xegou depois de meia hr de espera entao fomos as compras...ela viu a sessao de mulher, akela com calcinha e c sabe neh, parou e nunca mais saiu e eu lah axando tudo um saco...
pois bem axo q nao soh eu axei tudo um saco, pq derrepente lah vem ele de novo: akele barulho de motocicleta engasgada, akela vontade de ir pro trono...


nao me segurei dessa vez e fui ao banheiro...ahhhhhhhhh...akele alivio, qnd eu olho, adivinha?! NO PAPER, e falei baixinho: ihhh , fudeu de novo, e isso tudo enqunto segurava a porta q tava quebrada... apelei pela segunda vez...TOC, TOC...bati na parede da privada vizinha, meu senso de ridiculo a essa altura jah tava alí, tb dentro do vaso.
perguntei: vizinho? tem papel aí?! e a resposta: CRI, CRI, CRI...silencio total.


nem deu tempo de implorar soh sei q foi uma metralhadora o negocio, era tiro pra tudo qnto eh lado...
tive q limpar com 2 dedos de papel q encontrei escondido no encaixe, pense...
sai, pensando no alivio e tal e fui encontrar minha mae(lavei a mao,calma!) falei pra ela do ocorrido e ela veio com akele papo: tah vendo, nao me ouve ,nunca eskente o feijao e sim ferva, sempre!


e eu: sim blz, agora eh tarde!entao ela me perguntou: ainda sente dor?respondi q nao, mas tava com akele velho palpite...
passou-se uns 10 min e parece q o metalica tinha voltado pro meu estomago, entao minha mae falou:vai comprar um remedio na farmacia e eu disse:nao, q nada vai passar, resistindo ao rock´in roll...


virei pra ela cruzando as pernas e mordendo o labio inferior e disse:tah bom eu me rendo vou comprar o remedio e fui...
enqnto eu ia,pensava:nao posso dizer q estou na merda(literalmente)vai ser uma vergonha, entao tomei folego e soltei: MOÇA VC TERIA AÍ ALGUMA COISA PARA INDISPOSIÇAO INTESTICIAL?


e ela: claro! como se entendesse meu problema. Na volta, mostrei o remedio para minha mae antes de tomar.
ela olhou, examinou e gritou vc eh doido? isso aqui eh um laxante! e eu: mae, fala baixo, ninguem precisa saber!
resumo da historia: depois de ir umas 4 vezes no banheiro(mas somente na 1 vez nao tinha papel)minha mae foi trocar o remedio, dessa vez trouxe um entope tudo, sabe dakeles?! pois eh desse mesmo, e ateh hj quase 40 dias depois, nunca mais voltei ao trono!



Este texto foi um recado que enviei a um amigo do orkut, note as expressões e falta de uma gramática bem aplicada, preferi preservar os erros para dar mais comicidade à situçao. ISSO REALMENTE ACONTECEU!

NÃO HÁ EXISTÊNCIA SEM O OLHAR QUE TROCAMOS ENTRE NÓS

Imaginaria-me agora em uma praia cinzenta e fria, sozinho. Só eu e o mar molhando meus pés. Penso que alguém ignorado sente o mesmo: isolado, angustiado, tomado pelo nada a correr por essa praia imaginando alcançar alguém que se disponha a me ver, a conversar comigo, a me notar como pessoa.


Penso que essa minha praia não seja diferente da rua a qual vim e vivi, como vivem tantos meninos e meninas, assim como eu, impossibilitado de existência social, restando-nos somente a praia, sempre a tocar nossos pés para nos lembrar que assim como a água, as pessoas podem também ser bastante frias.


Conseqüentemente, se corro em direção a nevoa que me cobre a vista e tento observar o vulto que penso ser alguém a me notar, corro...mas para onde? Para quem? Se alcanço o vulto, logo descubro que ele não estava acenando pra mim, não sou eu o notado, passo desapercebido.


O vulto passa por mim e eu por ele. Baixo minha cabeça e me pergunto se Rousseau estaria certo em afirmar que não há existência sem o olhar que trocamos entre nós.
Em seguida, uma outra pergunta me vem de relance. Volto o olhar pra mim, me observo e imagino se minhas roupas sujas e rasgadas fariam diferença se assim elas não fossem vistas. Se a possível alvura de minha pele determinaria meu potencial de ser notado, de existir.


Poderia o resto da vida viver nessa praia, mas não posso. Uso de malabarismos e às vezes piruetas, na esperança de que dessa forma olhem para mim. Muitas vezes não consigo. E então só o que posso fazer é observá-los protegidos por seus escudos de vidro, intocados em seu mundo.


Por quanto tempo me deixarão isolado na praia? Por quanto tempo me deixarão afogado na rua? Não tenho respostas, somente a água fria.


Nessas horas justifico o motivo de alguns iguais a mim, usarem de qualquer poder de atenção para ser notados. Muitas vezes, chegam até a quebrar o escudo de vidro, quão desesperados de existência eles estão, outros algumas vezes vão além, e não quebram somente o escudo, quebram suas vidas também, somente em busca da tão valiosa existência, escondida entre o poderio do dinheiro e alvura da pele.


Mais um de meus textos para a disciplina de Sociologia que não foi digno de nota.
Lembro que produzi este texto enquanto ouvia "yellow" do Coldplay, visualizei o clipe dessa musica e desandei a escrever, acho que exagerei na viagem um pouco.

OS DONOS DE SEU NARIZ

Todos deviam ser donos do seu nariz, mas infelizmente isto não acontece. Num país como o Brasil o sonho do nariz próprio continua inalcançável para a maioria. Só uma minoria privilegiada é dona do seu nariz. Poucos sabem que 70% dos brasileiros alugam seu nariz. O Governo vem tentando melhorar a situação através dos financiamentos do BNN para a aquisição do nariz próprio, mas com a correção monetária, reajustes, etc. o pobre acaba pagando pelo nariz muito mais do que pode.



Muitos vivem na ilusão de serem donos do seu nariz e na realidade não são. Mesmo os proprietários de nariz não têm direitos absolutos sobre ele. O nariz é um bem móvel. Qualquer transação envolvendo o nariz depende da fiscalização pública. Você descobre que o nariz não lhe pertence quando, por exemplo, pretende viajar para o exterior. Não há nenhum empecilho para você sair do país, ao contrario do que se pensa.


— O senhor tem completa liberdade de ir e vir.
— Sem papelada, sem nada? Posso sair quando quiser?
— Exato. Mas sem o nariz, claro.
— Como? Eu sou dono do meu nariz.


— Perdão. Seu nariz é uma concessão do Governo. Pertence ao Estado.
— Mas eu não posso viajar sem ele. Somos muito ligados.
— Bem. Para tirar um nariz do país é preciso passaporte, visto de saída, atestado de bons antecedentes, atestado de ideologia do nariz...E o depósito compulsório.
— Quanto?
— Os olhos da cara.


Todos os impostos e taxas que você paga ao Governo são pelo uso do seu nariz. O nariz, na realidade, é a única parte da sua anatomia sobre a qual o Governo tem todo o poder. O Estado não interfere no resto do seu corpo que, no caso de prisão arbitrária, só vai junto porque quer. Foi isso, na opinião de alguns juristas, que tornou o habeas-corpus supérfluo entre nós. E, convenhamos, um habeas-nasalus seria ridículo.


Eu alugo meu nariz e estou muito satisfeito com ele. Não conheço o proprietário. Pago o aluguel em dia, conservo o nariz em bom estado e não dou ao locador qualquer razão para queixa. Mas, teoricamente, o dono do meu nariz pode reclamá-lo quando quiser. Basta uma denúncia vazia de que eu estou metendo o meu — ou dele, no caso — nariz onde não devo e ele pode reaver o nariz. A situação é irrespirável.


Alguns proprietários de narizes alugados estão sempre vistoriando a sua propriedade. Acordam o locatário no meio da noite para ver como vai o nariz.
— Hum. Deixa ver. Parece bem. Este cravo aqui do lado...
— Vou espremer amanhã mesmo.
— Você limpa todos os dias?


— Por dentro e por fora.
— Olha aí: os óculos estão deixando marca. Não pode.
— Vou cuidar disto. Agora posso dormir? Estou meio resfriado...
— Que tipo de lenço você tem usado? De papel, espero. Lenço de pano irrita o nariz. Olhe lá, hein?


Alguns contratos de aluguel são extorsivos. Incluem uma cobrança por espirro, taxa-coriza, o diabo.
Existe uma espécie de bolsa do nariz onde os grandes proprietários compram, vendem e trocam seus narizes.
— Tenho um nariz bem grande em Petrópolis. Troco por dois pequenos na Zona Sul.
— Nariz novo. Vendo. Estilo grego.


— Compro um afilado. Qualquer zona menos Avenida Farrapos.
— Vendo um achatado, simpático, amplas narinas, na Independência.
— Reformado, como novo, troco por adunco ou arrebitado.


A questão do nariz reformado é, legalmente, um pouco confusa. Quem é dono do seu nariz pode alterá-lo como quiser, desde que obtenha uma licença da prefeitura. Um bom Pitanguy, hoje vale uma fortuna. Mas quem aluga o seu nariz e quer modificá-lo deve antes consultar o dono.
— Estou pensando em tirar um pouco aqui, estreitar aqui e baixar aqui.


— Impossível. Não posso permitir. A senhora quer diminuir a área total do meu nariz.
— Mas vai ficar um Tônia Carrero perfeito. Vai aumentar de valor.
— Sei não... Aumentam os impostos...
— O senhor pode aumentar o aluguel.
— Feito.


Os donos do seu nariz têm o poder e não há nada que você possa fazer a respeito. O seu nariz pode ter sido vendido a uma multinacional agora mesmo e você nem sabe.



Crônica de Luis Fernando Veríssimo.

MÍLTON E O CONCORRENTE

Mílton ainda não abriu a sua loja, mas o concorrente já abriu a dele; e já está anunciando, já está vendendo, já está liquidando a preços abaixo do custo. Mílton ainda está na cama, ao lado da amante, desta mulher ilegítima, que nem bonita é, nem simpática; o concorrente já está de pé, alerta, atrás do balcão.


A esposa — fiel companheira de tantos anos — está ao seu lado, alerta também. Mílton ainda não fez o desjejum (desjejum? Um cigarro, um pouco de vinho, isto é desjejum?) — o concorrente já tomou suco de laranja, já comeu ovo, torrada, queijo, já sorveu uma grande xícara de café com leite. Já está nutrido.


Mílton ainda está nu, o concorrente já se apresenta elegantemente vestido. Mílton mal abriu os olhos, o concorrente já leu os jornais da manhã, já está a par das cotações da bolsa e das tendências do mercado. Mílton ainda não disse uma palavra, o concorrente já falou com clientes, com figurões da política, com o fiscal amigo, com os fornecedores.


Mílton ainda está no subúrbio; o concorrente, vencendo todos os problemas do trânsito, já chegou ao centro da cidade, já está solidamente instalado no seu prédio próprio. Mílton ainda não sabe se o dia é chuvoso, ou de sol, o concorrente já está seguramente informado de que vão subir os preços dos artigos de couro. Mílton ainda não viu os filhos (sem falar da esposa, de quem está separado); o concorrente já criou as filhas, já formou-as em Direito e Química, já as casou, já tem netos.


Milton ainda não começou a viver.
O concorrente já está sentindo uma dor no peito, já está caindo sobre o balcão, já está estertorando, os olhos arregalados — já está morrendo, enfim.


Conto de Moacyr scliar.

PROFESSOR UNIVERSITARIO PEDE TRABALHO ESCRITO À MÃO

Na última segunda - feira de fevereiro um professor universitário pediu a dois grupos de alunos que refizessem seus trabalhos e que estes sejam entregues feitos a mão.
A justificativa do professor, o qual ministra a disciplina de filosofia na Universidade Federal de Alagoas, para os alunos de comunicação social, foi que estes dois grupos de alunos estavam com trabalhos idênticos.
-- Parece que copiaram do mesmo site, justificou o docente.

O trabalho que valeria a nota do semestre constava de um trabalho escrito e de uma apresentação em sala sobre o tema abordado, no caso, sobre o filosofo Maquiavel.
Ao que tudo indica, os alunos seguiram a risca o que leram no site sobre o referido filósofo. Maquiavel foi conhecido por ensinar, em sua obra mais famosa, como manipular as situações e pessoas em favor próprio. Foi o que fizeram ao encontrar um vasto acervo de textos na rede mundial de computadores.

Os alunos, porém, justificaram seus atos.
-- Eu perguntei se o trabalho poderia ser feito pela internet e ele respondeu que sim. Desabafou uma das alunas.

Um outro aluno que também participou do trabalho dá sua versão:
-- Esse professor passa um trabalho, diz que quer uma apresentação e junto um trabalho escrito, nós fizemos isso, pois até para se copiar um texto pela internet tem de se lê-lo, conectá-lo, editá-lo. No máximo o que fizemos foi ter errado na escolha do site. Ironiza o aluno.

Segundo relato de outros que não estavam envolvidos no caso, o professor da disciplina havia colocado alguns nomes de filósofos no quadro-negro, e a falta de experiência didática desse professor fez com que vários alunos escolhessem o mesmo autor, entre eles os dos dois grupos citados anteriormente.

Há nisso tudo, um amplo despreparo do corpo docente do sistema de educação universitária brasileiro. Professores substitutos são postos em lugares que nunca deveriam estar, pois proporcionam aos alunos horas de “palavriados” sem que cause o menor interesse por parte dos alunos.

Por outro lado, temos uma procrastinação dos alunos por colocar sempre os docentes como causas imediatas do que não conseguem aprender e são nesses casos, de trabalhos feitos pela internet, que se evidencia isso. Alunos procuram a maneira mais fácil e cômoda de pesquisa didática, pois não encontram na biblioteca universitária nenhuma ou uma deficiente fonte de pesquisa.
Entre pesquisar em um livro rabiscado, rasgado e cujo algumas palavras ainda vêem escritas com ph ( pharmácia, photografia) e outras ainda com tio (criãnça), penso que os alunos escolherão as siglas mais conhecidas no mundo as WWWs, onde no lugar da caneta tem-se o CTRL + V – CTRL + C e para as horas de necessidade gramaticais, sem dúvida o velho Word serve tanto quanto o Aurélio.



Sou aluno de comunicação social (Jornalismo) dessa universidade. Defendo um aprendizado sério e construtivo de ambos os lados. Mas infelizmente estamos falando do ensino público brasileiro.

março 08, 2006

CARNE BÊBADA

Severino ficou em casa vários dias por causa dos medicamentos e das reações a ele. Quando por fim despertou para ver uma manhã ensolarada, a qual não dava importância. Celebrou mesmo assim o evento. Estava consciente. Usando uma pá para revolver a terra numa pequena horta, passou seis horas fora de sua casa alugada.

Apesar de ser um trabalho fácil e contentador em outros dias, suas mãos não equilibravam direito o instrumento, havia meses que não mexia aquele barro seco. Mesmo com luvas, seus dedos ficavam quase imediatamente cheios de bolhas, que logo se romperam. Mas o solo era fértil e ele imaginava manhãs de verão, não muito distantes, em que iria carregar com os braços cheios, seu próprio milho e seus próprios tomates e abobrinhas para cozinhar.

Ficou nisso até o fim da tarde. Depois entrou em casa sentou-se no sofá e pegou um catálogo. Ficou lendo a lista e seus vários nomes e números durante a meia hora seguinte. Na maior parte do tempo, permaneceu absorto, mas tinha que fazê-lo.

As bolhas nas suas mãos estavam doendo. Levantou-se do sofá, foi até o armarinho da cozinha, onde guardava algumas pílulas analgésicas. Hesitou de início, não sabia se o remédio lhe causaria algum mal-estar. Pego-as e tomou duas com um copo de suco.

Naquele instante, quando estava a ponto de sentar de novo, Siva ouve um ruído de motor, alguém subindo pela rua.
Debruçou-se para olhar entre as festas da janela lacrada e viu um carro branco parar do lado de fora, do outro lado de sua rua. Não havia emblema nem dizeres: quatro janelas esfumaçadas em branco na parte de trás e pneus já há muito tempo rodados.

Houve um barulho. Nada de anormal. Alista telefônica havia caído do descanso de braço do sofá, encontrando a chão riscado com muita rapidez.
Dentro da casa alugada, Siva estava gritando.

Os olhos estavam piscando, imóvel e indefeso ali, ele só via a única saída de lugar nenhum. A porta da cozinha, já bastante distante de seus olhares vermelhos.
Na sala o que o atordoara, o que produziu aquele som insuportável aos seus ouvidos, não existia. Não conseguia ver a simples ação que moveu o objeto, o vento em suas folhas o empurrara para baixo.

Imóvel junto à janela, só existia então o silêncio.
Agora as cortinas começaram a se mexer novamente, como havia notado em outras vezes, quase titubeantes.

Ficou então esperando por uma resposta durante alguns minutos. Seu grito teve forcas quase para sair de sua boca, o que impossibilitou de alguém o ouvir. Não alguém que ele quisesse que ouvisse.

Severino recobrando os sentidos, voltando ao seu estado normal.
Não imediatamente. Era gradual, até que por fim recobrou totalmente a consciência. Então voltou a si. Começou a absorver sensações, impressões.

Estava jogado no chão de barriga para baixo.
O rosto e as costelas saltavam em dor nos pontos em que os pregos do assoalho o tinham encostado. Sentiu-se esmurrado e chutado. Foi algo que o ruído despertou. Um domínio dentro de si, em sua casa alugada.

Estava em sua mais absoluta escuridão.
Moveu a cabeça e o piso raspou sua face esquerda, enquanto o prego pontiagudo e solto engolia-lhe o olho. Estendeu os dedos para toca-lo.

Sentiu que o soalho a algum tempo precisava de concerto, suas pecas estavam soltas, fiapentas e velhas, soltando talas a qualquer um que as pressionasse.
Tateou com a mão e descobriu que o tapete terminava a uns poucos centímetros de onde estava caído. Para além estava a mesinha do telefone.

Lembrou-se de ter ouvido sua irmã, Arlete, lhe falar que caso precisasse de ajuda, ligasse.
Deu-se conta de uma pressão em seu rosto. Trouxe o dedo indicador até ele e sentiu um corrimento contínuo e grosso no seu olho esquerdo, o qual cobria mais ainda o breu de suas vistas. Era então por isso que não podia enxergar.

O prego enferrujado tinha soltado pedaços de seu metal e perfurado um pequeno centímetro — Ele não conseguia nem abrir o outro olho dormente.
De uma certa distância uma voz falou:

— Aposto que podia ter sido pior! A vida é assim mesmo, cruel!
Aquelas palavras soaram ironicamente lentas. Captou também um graduado leve e curto som, da voz estranha. Podia pressentir que estava a certa altura do chão.

— Onde você está? Perguntou Siva surpreso ao falar.
— Não importa. Disse a voz.
— O que você quer?
— Tudo ao seu tempo. Mais uma vez a voz.

Quando aquelas palavras partiram, só havia silêncio.
— Posso sentir o cheiro de sua alma. Sabe disso?
Ele estava quase alegre em ouvir a voz novamente. O som restabelecia alguma sensação de lugar e distância, algum instante para respirar.

Uma leve pausa, curta, amedrontadora. E então a estranha voz cospe uma risada breve.
Outra pausa.
E agora um novo ruído.

Algo sendo deslocado. Não só podia ouvi-lo, mas também senti-lo através da extensão da madeira que estava caído.
Ele estava indo em sua direção. Desta vez mais forte. Ergueu os ombros e se sentou para ficar voltado à direção de onde vinha — Era o vento vindo solto da janela não mais trancada.

— Levante-se. Disse a voz.
— Levante-se. Você ainda pode ver com um olho.
Ele sacudiu uma perna, sacudiu outra. Então sentiu algo frio e
deslizante tocar o chão de seu pé — Era seu suor acumulado na madeira encerada.
— Você sabe onde está? Perguntou a voz.
— Você já esteve aqui outras vezes.

Ele podia visualizar um vulto pequeno e escuro em meio às cortinas brancas. Não pode ser! Pensou ele — Mas estava ali.
Teve vontade de vomitar. Seu estomago se contraiu.
Ele ficou imóvel, deixando o soalho suportar seu peso, enquanto este rangia contra o chão.

— Mova-se. Disse a voz.
Estava preso no chão. Pensava-se assim.
— Vamos! — Pelo menos tente. Disse em seguida.
Sentia –se pálido.
— Você quer uma mãozinha? — perguntou ironicamente o vulto — mantenha-se vivo e eu o deixarei ir.

Ela ia matá-lo, pensou Siva, tinha certeza disso.
Mesmo assim escolheu viver nem que fosse por mais alguns segundos.
Andou um pouco para o lado e enxergou fosca a janela. Agora ele estava a sua esquerda — e se confidenciou que talvez pudesse ir em direção aquilo.

Impossível, só haviam duas saídas. E uma delas era a janela.
— passaram-se trinta segundos. Sobra um minuto e meio — falou o vulto em voz alta — decidi não te avisar sobre o início da contagem — ironizou.

A coisa ficou olhando enquanto o sangue de Siva corria atravessando seu corpo e indo direto para a outra extremidade da sala. Ultrapassando a porta de entrada.
Achou isso notável. O modo como o líquido havia corrido imponente entre as frestas do piso, continuando a correr até o instante em que não tinha mais chão diante de si.

Era alguma coisa antropozoomórfica, pensou Siva, algum trejeito involuntário fez com que percebesse um algo mais de animalesco naquele ser.
Percebendo a gravidade do momento, algo o fez abandonar uma investida contra a coisa. Mesmo que conseguisse não poderia. Mal se mantinha em pé. E se fizesse sem sucesso? O que viria a seguir.

— Sabe? Isso não se pode imitar. Mesmo nos filmes, toda a equipe se prepararia, iria muito sutilmente determinar o curso de seu sangue, antes deste se precipitar além da borda do piso — comentou com Siva, a coisa, e este sem entender nada.

E agora um metal, uma espécie de gancho começou a tinir. A coisa o estava arrastando no chão, uma serie rápida de ruídos arrastados — ele escutava o tinir, sentia o riscar pelo piso, fazendo seus pés formigarem.

O barulho estava mais perto. Ele imaginou a ponta do metal na sua direção, fria e pontiaguda.
O vulto o estava alcançando, restava só alguns passos de distância.
Ele podia ouvir a respiração dele.

As riscadas cessaram, não conseguia ouvi-las andando em sua direção.
E afastou-se para trás...
...um passo. Até que apoiou o pé esquerdo e sentiu o empossado chão, nenhum espaço livre, só um líquido viscoso e logo estava caindo para trás, sem controle.

Deslizando.
Ele foi caindo, caindo, caindo.
Precipitou-se às cegas para baixo, sabendo que algo o esperava quando finalmente encontrasse o solo de novo. Algo ruim.

Quando ele piscou ao acordar, a porta da sala havia sido aberta.
Claridade. Um feixe de luzes fortes, brilhando nos seus olhos. Tentou erguer uma das mãos, proteger os olhos. Mas exigia um esforço grande, grande demais. Deixou o braço cair no chão, e fechou os olhos novamente.

A criatura ergueu o gancho e girou-o, fazendo-o brilhar num arco em direção ao pescoço de Siva, e isso foi a ultima coisa de que ele se deu conta naquele instante.
Severino Gerson dos Santos, beirava os quarenta e dois anos. Tinha mulher e filha.
Seu quadro psicológico o definia ainda como maníaco-depressivo.

Sua irmã, Arlete, havia alugado aquela casa uns cinco meses atrás. No penúltimo mês, Siva tinha quase perdido os dedos das mãos. Cavou o chão de cimento até encontrar terra, num de seus ataques.

Quando os enfermeiros chegaram na casa, o encontraram nu, caído e todo envolto em sangue. Suas roupas estavam empilhadas no chão. Parecendo-lhes terem sido arrancadas do corpo.
Siva usara um pequeno objeto contorcido e pontiagudo para perfurar seu próprio olho. Alegou não ter cometido o ato, responsabilizando um ser com corpo de gato e cabeça de gente.

Depois que a mulher o abandonou, Arlete foi obrigada a tranca-lo na casa.
Em seu último ataque Severino havia até tomado álcool combustível. Morreu com síncope. Era alcoólatra.


Conto Baseado em um fato real(familiar). Ano de produçao: 2003.

A BIOÉTICA É PARA QUEM?

O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. Talvez Antônio Conselheiro não soubesse precisamente o que significaria estas palavras profetizadas por ele, o fato é que desde sempre de algum modo e em algum lugar o homem, ou menos uma pequena parcela dele, preocupou-se como conviver em equilíbrio com este planeta e com os recursos naturais que ele nos oferece.

Assim como nossos avós, Antônio Conselheiro sabia a sua maneira, que a natureza tem um papel muito significativo na vida de qualquer ser humano. Nessa terra todos sabemos, em se plantando tudo dá, mas nada é para sempre. Como usar os recursos naturais a que dispomos de maneira salutar?

Essa pergunta talvez nunca seja respondida e se for, alguém nos acude pois será tarde demais.
Sabemos que já passamos por uma era glacial— ao menos a mais recente — e sobrevivemos a ela. Contudo, o que parece mera ficção pode sim acontecer.

No filme O dia depois de amanhã, acontece exatamente isso: um superaquecimento global e um excessivo aumento dos níveis de água dos oceanos. O enredo já sabemos e não é preciso assistir a nenhum filme hollywoodiano. Dramas cinematográficos à parte, o que provavelmente não deixaria de acontecer seria o descaso das autoridades, como acorre no filme, as quais só lamentam quando somente há o mínimo a fazer.

Não é preciso contudo, que se pense que este fato está longe de acontecer. Nota-se a cada verão um aumento sensivelmente notado na temperatura e um inverno cada vez mais frio — levando-se em consideração a proporção de cada continente e suas subdivisões regionais. Está na hora desde de já que nós, habitantes também deste planeta, nos mexamos e que paremos de só cuidar do quintal de nossa casa, cuidemos também desse imenso depósito de lixo que se tornou a Terra para a humanidade.

Levando-se em conta, a imensa dimensão do nosso planeta, se se pensar em quantos condicionadores de ar estará ligado neste momento, sem dúvida não restará nem a mais tenra das camadas que nos proteja do derretimento das calotas polares, sem falar na rápida vaporização da água do mar a qual aumentaria os níveis pluviométricos. Assim com tanta chuva, não restará de pé ou em superfície, se quer uma palmeira onde cante qualquer pássaro que dirá um sabiá.

Logo, é inevitável que haja preocupações com respeito à natureza e a natureza das coisas com que a tratamos. Desligar o condicionador de ar não resolverá o problema, mas é uma pequena atitude que certamente fará diferença se a tomarmos como exemplo para fazer mais coisas desse tipo, e quem sabe assim nos reste mais alguns anos de sobrevivência neste planeta.

Texto produzido para a disciplina de filosofia.

RECONHECIMENTO: A MOTIVAÇAO DE EXISTIR


Não foi por acaso que Rousseau, Adam Smith e Hegel destacaram o valor do reconhecimento dentre todos os processos elementares. Ele é, de fato, duplamente excepcional. Inicialmente, por seu próprio conteúdo: é o reconhecimento que determina, mais do que qualquer outra ação, a entrada do indivíduo na existência especificamente humana.

Efetivamente, quando uma criança explora ou transforma o mundo a seu redor, recebe também confirmação de sua existência, quando imita um adulto, ela se reconhece como o sujeito de suas próprias ações e, portanto, como um ser existente. Assim, o primeiro reconhecimento que a criança recebe vem de pessoas superiores: seus pais ou seus substitutos; depois, o papel é retomado por outras solicitações encarregadas pela sociedade para exercer essa função. Logo, toda coexistência é um reconhecimento.


A ASPIRAÇÃO AO RECONHECIMENTO

A aspiração ao reconhecimento pode ser consciente ou inconsciente, acionando mecanismos racionais ou irracionais. Posso tentar captar o olhar dos outros por meio das diferentes facetas de meu ser, meu físico ou minha inteligência, minha voz ou meu silêncio.
Sob essa ótica, as roupas exercem um papel particular, pois são literalmente o campo de encontro entre o olhar dos outros e minha vontade, fazendo com que me situe em relação aos mesmos; quero ser parecido com eles ou com alguns dentre eles e não com todos, ou com ninguém. Portanto, escolho minhas roupas em função dos outros, mesmo que seja para lhes dizer que me são indiferentes.

O reconhecimento atinge todas as esferas de nossa existência e suas diferentes formas, e nenhuma pode substituir a outra: conseguem no máximo, proporcionar, conforme o caso, algum consolo.
Tenho necessidade de receber reconhecimento tanto no plano profissional como em minhas relações pessoais, no amor e na amizade; e a fidelidade de meus amigos não pode, na verdade, compensar a perda de um amor, assim como nem toda a intensidade da vida privada consegue apagar uma derrota na vida política.

Hegel afirmou que a demanda de reconhecimento podia acompanhar a luta pelo poder; mas ela pode também se articular com relações em que a presença de uma hierarquia permite que se evitem conflitos. A superioridade e a inferioridade dos parceiros, são, com freqüência, reveladas antecipadamente: cada um aspira nada menos do que a aprovação do outro.

O reconhecimento proveniente dos inferiores, por sua vez, não é de se desprezar, embora seja muitas vezes dissimulado: o patrão, bem sabemos, tem necessidade de seu servidor não menos do que o inverso, o professor tem confirmado seu sentimento de existir pelos alunos que dele dependem, o cantor precisa, todas as noites, dos aplausos de seus admiradores, e os pais vivem o trauma da partida dos filhos, que pareciam, todavia, ser os únicos a pedir reconhecimento.

Essas variantes de reconhecimento se opõem em conjunto a situações igualitárias, no interior das quais surgem mais facilmente os sentimentos de rivalidade. Essas situações, por se só, são numerosas: o amor, a amizade, o trabalho, parte da vida em família.
Enfim, a pessoa pode tornar-se sua própria e única forma de reconhecimento, seja seguindo o caminha do autismo, recusando todo contato com o mundo exterior, seja desenvolvendo exageradamente seu orgulho e reservando-se o direito exclusivo de apreciar seus próprios méritos, ou seja, por fim suscitando em si uma encarnação de Deus que serve para aprovar ou desaprovar nossos comportamentos:
assim, o santo busca superar sua necessidade de reconhecimento humano e contenta-se em apenas fazer o bem.


A CONFORMIDADE E A DISTINÇÃO

Devemos agora distinguir duas formas de reconhecimento as quais todos aspiramos, mas em proporções as mais diversas. A esse propósito, poderíamos falar de um reconhecimento de conformidade e de um reconhecimento de distinção. Essas duas categorias opõem-se uma a outra: quero ser considerado diferente dos outros ou semelhante a eles.
Aquele que deseja se mostrar o melhor, o mais forte, o mais bonito, o mais brilhante, quer evidentemente se sobressair entre os demais; é uma atitude particularmente freqüente na juventude. Existe, porém, um outro tipo de reconhecimento que é antes uma característica da infância e, mais tarde, da maturidade, sobretudo nas pessoas que não têm uma vida pública intensa e cujas relações íntimas estão estabilizadas:
obtêm seu reconhecimento pelo fato de se conformarem, tão escrupulosamente quanto possível, aos usos e normas que consideram apropriados a sua condição. Essas crianças e esses adultos sentem-se satisfeitos quando se vestem como convém à sua faixa etária ou de acordo com seu meio social, quando podem enriquecer suas conversações com comentários adequados, quando provam que pertencem efetivamente a seu grupo.

AS RENÚNCIAS

Certas formas de renúncia a toda e qualquer forma de reconhecimento são radicais. Assim, por exemplo, o autismo, grave anomalia do psiquismo que condena a pessoa a ficar fechado em si mesma, a recusar qualquer contato, troca ou comunicação com os outros.
Não importa a origem desse distúrbio, orgânico ou funcional, o efeito é o mesmo: ao recusar o contato o doente afasta qualquer risco de lhe faltar reconhecimento ou de não receber confirmação de seu valor.

Podemos comparar ao autismo certas atitudes menos patológicas. Podemos perguntar, por exemplo, se o difundido uso das drogas pesadas ou leves, entre os adolescentes ( ou do álcool, mais tarde ) não corresponde a uma recusa em buscar o reconhecimento dos outros.
Quando se está viajando, tem-se a sensação de plenitude, de auto-suficiência, que permite não mais nos preocuparmos com as reações dos que nos cercam. Na mesma faixa etária, a música tem papel semelhante, que eu escuto de preferência muito alto ou com fones de ouvidos: também serve de camada isolante entre mim e o mundo exterior, ela me envolve como um casulo, dispensando-me de solicitar um reconhecimento.

Por conseguinte, podemos observar, tanto nas crianças como nos adolescentes, a tendência à solidão ou à indiferença quanto ao julgamento dos outros, com freqüência, depois de decepções afetivas ou de situações que causaram um sentimento de abandono.
Esconder-se por trás da carapaça da indiferença possibilita, evidentemente, evitar futuras decepções. É claro que tais atitudes de retraimento podem ser interpretadas pelos outros como orgulho ou desprezo, provocando, assim, além da rejeição inicial provavelmente imaginária, uma rejeição real. Esse mecanismo é um exemplo dentre outros onde, como dizem os lógicos, a representação produz a coisa representada.

A renúncia sob o nome de orgulho é uma das mais conhecidas. Pode-se restringir o sentido dessa palavra ( de acordo com o grande número de seus usos ) para designar a renúncia a toda e qualquer confirmação de meu valor por um juízo externo e sua substituição por uma auto-aprovação, confirmação de que só eu detenho o privilégio.
O indivíduo orgulhoso louva a si mesmo: primeiramente, porque sendo orgulhoso jamais se digna a partilhar sua auto-apreciação com os outros (despreza-os demais para tanto); depois porque o orgulho não exige necessariamente um elogio: posso ser orgulhoso e severo comigo mesmo, o importante é que só eu tenho o direito de me julgar.
O orgulhoso é, portanto, na superfície, todo modéstia, visto que não pede nada aos outros, não é vaidoso no sentido da palavra; mas sua auto-estima é bem maior do que a do vaidoso que confia no julgamento dos outros. De onde, sem dúvida, origina-se a fórmula de Rousseau : “ O amor de si, deixando de ser um sentimento absoluto (isto é, introduzindo-se no mundo social), torna-se orgulho nas grandes almas, vaidade nas pequenas.”

O orgulhoso é uma das melhores aproximações possíveis do ser auto-suficiente. Para não depender dos outros, admitindo sua incompletude, procura fazer tudo sozinho: é hábil tanto no plano físico quanto no mental, sabe sempre cuidar de si. Sua vontade de autonomia o conserva em boa saúde, pois enfermidade é dependência.
Ou então, é um ser ascético, desprovido de necessidades: come pouco, vive duramente. Suspeita-se duramente que os santos cristãos nutriam um grande orgulho; aquele que diz “não tenho necessidade de nada” subentende-se: tenho tudo; sonha ser deus.
Na verdade, o orgulho nos induz a fazer a separação entre o reconhecimento de nossa existência e a confirmação de nosso valor: mostro indiferença quanto a esta mas não àquele. Minha tranqüilidade de espírito provém não do juízo positivo que faço de mim, mas do fato de que esse juízo, positivo ou negativo, é reservado a mim; entretanto tenho sempre necessidade dos outros para me sentir existir, mesmo que não lhes peça que me aprovem.

O orgulhoso gostaria de apresentar suas atividades como livres de qualquer finalidade externa: age a sua maneira, porque é ele quem mais lhe agrada no mundo e não porque espera recompensa. Não que tal motivação seja impossível:
nem sempre fazemos tudo buscando reconhecimento, podemos também encontrar até na realização de um gesto, sem passar pela mediação do olhar aprovador. Mas, no orgulho, a mediação não está ausente, esta interiorizada.
A diferença pode parecer capciosa, no entanto, é real. Se alguém, seja marceneiro ou escritor, fizer bem seu trabalho, pode encontrar satisfação, seja no juízo positivo que tem de si mesmo (é a interiorização orgulhosa do julgamento dos outros), seja no próprio ato de realizá-lo, sem passar por nenhuma mediação (é o que se chama de “realização”).

Na superfície, o indivíduo orgulhoso é agradável em seu ambiente; mas, em profundidade, é frustrante. É agradável, pois não nos incomoda com apelos, não nos solicita continuamente e presta serviço com mais freqüência do que pede; tem comportamento modesto, ora, a modéstia nos outros é uma qualidade muita apreciada. Mas, se estou destinado a conviver com ele, descubro progressivamente os inconvenientes da situação.
Ele me recusa todo reconhecimento indireto ao não admitir sua própria incompletude. Se não tem necessidade de mim, para que eu sirvo? Uma pessoa dependente de mim pode causar-me preocupações e aborrecimentos; no entanto, ela me dá mais do que toma de mim: ela me faz com que me sinta necessário.
“sempre se tem necessidade de alguém que tenha necessidade de você”. Essa mãe se queixa do tempo que o filho lhe toma, essa mulher sofre por ter de visitar um prisioneiro, esse homem esta irritado por ter de cuidar de seu pai doente; mas o desaparecimento desses seres dependentes seria também um golpe nos seus sentimentos de existência.
A exigência de reconhecimento que o outro me faz é em si mesma um reconhecimento por mim. Ora, o orgulhoso não me faz qualquer pedido, mas busca minha aprovação, não admite sua fraqueza. Tenta sempre fazer tudo melhor que seu próximo, a ponto de este se sentir humilhado pela comparação. Nesse aspecto, o indivíduo vaidoso, insuportável na superfície, é bem mais agradável: sinaliza sempre a necessidade que tem de mim.
É o que já havia notado Adam Smith: o homem orgulhoso é mais respeitável, porém, mais difícil de conviver, o vaidoso que quer sempre agradar é uma companhia agradável: é fácil dar-lhe prazer.

A SOLUÇÃO

A solução para os que vivem próximos do orgulhoso seria, certamente, ir embora, mas ele não a suportaria e faz com que se saiba disso. O orgulhoso exerce sobre os outros um duplo constrangimento: exige que estejam presentes (o que confirma sua existência), mas não lhes pede nenhuma contribuição em particular, pelo contrário, ostenta sua completude (sua auto-aprovação).
É o que se passa com antigos maridos que desprezam suas esposas, mas não podem viver sem elas, pois têm o hábito de falar diante delas (não propriamente com elas), mesmo que seja para lhes dizer, especialmente, que elas não merecem escutá-los. O orgulhoso exige do próximo seu reconhecimento, mas não o admite; devido a isso, recusa-se a conceder o seu.
Artigo proposto à disciplina de psicologia como requisito a obtençao de nota.

março 04, 2006

ERA SÓ O QUE FALTAVA

Brad Pitt quer fazer papel homossexual, diz tablóide Publicidade da Folha Online .O ator norte-americano Brad Pitt, 42, um dos galãs mais bem pagos de Hollywood, pediu a seus agentes que lhe consigam um papel de homossexual.

A vontade teria surgido depois do estrondoso sucesso registrados por filmes com esta temática, como "O Segredo de Brokeback Mountain" e "Capote", ambos indicados ao Oscar deste ano nas categorias melhor filme, melhor diretor e melhor ator, entre outras.

O ator, atualmente namorado da também atriz Angelina Jolie, 30, quer atuar em um filme "que descreva a história definitiva de um amor gay", disse uma fonte próxima de Pitt segundo o tablóide inglês "The Sun". "Ele quer que seja uma história que agrade a homens e mulheres, e quer que este papel seja o mais arriscado de sua carreira.

Ele sabe que vai causar um choque, mas acha desafiador", disse a fonte segundo publica o jornal inglês nesta quarta-feira. Pitt já viveu um personagem gay no cinema. Ele interpretou Louis no filme "Entrevista com vampiro", de Neil Jordan. Na trama, ele era amado por Lestat, interpretado por Tom Cruise.

O filme, porém, adpatação do livro de Anne Rice, mostrou o romance homossexual de maneira mais indireta. Mas o trabalho, mesmo que apareça, deve ser guardado para o futuro. O ator, agora, só pensa em seu casamento e nos preparativos para a chegado do bebê de Angelina, prevista para julho.

março 02, 2006

EU VIVO ATRAVÉS DAS MÚSICAS

Os artistas que me desculpem, mas agradeço aos céus por existir a internet e sua pirataria musical. Em conseqüência disso pude ouvir desde Bach até Vanessa da mata, contudo, não é só a questão de pagar ou não, pagaria se tivesse dinheiro e se encontrasse nas lojas, talvez eu encontre Vanessa lá, sim, e seus ai, ai, ais...

Mas não encontrei Bach, na prateleira de forró e axé não cabiam. Somente o fato de poder ouvir e ter para mim nas horas em que eu preciso já me vale ser chamado de consumidor dos piratas ou genéricos. Onde eu compro tem até uma espécie de selo de autenticidade, se chama o clone cd & cia, com esse carimbo eu posso trocar se vier defeituoso e olha não tenho do que me queixar não!

Que Gustavo Santaolalla me perdoe... Ou não, por que só pelo frete de envio do cd eu iria pagar uma fortuna e isso sem contar a demora de chegar. Gustavo Santaolalla é espanhol - salvo engano - ele assina boa parte da trilha do filme: Diário de Motocicleta e O segredo de Brokeback Mountain. A maioria são sons instrumentais muito bem arranjados e postos nos filmes. Quando nessa vida eu teria condições financeiras – não agora - de conhecer o talento desse artista? Suas musicas estão agora comigo e me fará companhia, pretendo reproduzi-las somente para meus ouvidos e alma.

Agradeço ao deus mp3 por me proporcionar conhecer Johnny Cash e sua melódica Hurts, cantada num tom de quem já sabia a hora da morte, pois ele faleceu pouco tempo depois de gravá-la. Agradeço a Rufus Wainright por cantar tão expressivamente Maker Makes, já o conhecia através de Hallelujar, e também por eu poder ouvi-la, desculpe Rufus, mas seus direitos autorais são muito caros para alguém tão necessitado de coisa boa como eu e sua canção é uma delas.

Obrigado Willie Nelson por me embalar com He was a friend of mine e a você também Gustavo Santaolalla por sua linda e profunda Opening, com certeza ela me abriu um mundo de sentimentos e reflexões, que em mim já não existia. Obrigado por me proporcionar isso!