julho 20, 2011

CASAR VÁRIAS VEZES


Fiz as contas outro dia e descobri que conheço quatro mulheres recém-separadas com pouco mais de 30 anos. Elas se casaram na segunda metade dos 20, tiveram filhos e agora estão recomeçando a vida. Assim como os ex-maridos delas. 

No fim de semana fui tomar café com uma das quatro. Ela parecia animada, mas apreensiva. Bonita e feliz, diz que não tem faltado sexo depois do casamento. Sempre aparece um sujeito interessante que está interessado. O problema é depois: rola ou não rola algum tipo de relacionamento? Não tem rolado, e isso a deixa nervosa. Minha amiga gosta de namoro, intimidade, manhãs de domingo a dois, lendo jornal no sofá. “Não aguento mais me arrumar para sair com um cara novo”, ela se queixa, rindo de si mesma. “Dá muita preguiça esse negócio de procurar parceiro.” 

Ao conversar com ela, tive a impressão inexorável de que nós todos - homens e mulheres de todas as idades - vamos ter de nos acostumar a essa forma essencial de instabilidade. Assim como não existe mais emprego para a vida inteira, talvez não haja mais casamento para a vida inteira. Constatar isso impede que a gente relaxe e se acomode. Afinal, tanto o emprego quanto o casamento podem acabar a qualquer momento. Você pode ser demitido. 

Talvez seja cruel pensar assim, mas é parte da nova realidade. 

Antes, a gente se casava uma única vez. Escolhia um parceiro antes do 30 anos e ficava com ele até o fim da vida. Para o bem e para o mal. Mas isso, faz tempo, é verdade para um número cada vez menor de pessoas. Só os que têm muita sorte ou são imensamente conformistas passam a vida com um único parceiro. A maioria – ao menos no meio em que eu vivo – terá múltiplas relações durante a vida. 

Dá preguiça começar de novo, mas acho que não tem outro jeito. 

Assim como trocamos de emprego, de casa, de amigos e de ideias ao longo da existência, me parece (quase) inevitável que haja renovação em relação aos parceiros. A alternativa a isso seria renovar as relações por dentro, indefinidamente, por meio de projetos, filhos, mudanças, experiências novas e, claro, amor, muito amor. Mas quem consegue manter esse trem perpetuamente em movimento? Sábios ou sortudos, que são minoria em qualquer lugar. 

As pessoas mudam com o tempo, distanciam-se uma da outra e, para muitos, a ligação acaba. Como se faz para casar com uma pessoa aos 25 anos e seguir contente com ela aos 45? Eu não faço ideia. Nem me parece que a permanência seja a coisa mais natural ou mais desejável do mundo. 

Mas a intenção desta coluna não é advogar a fragilidade ou a transitoriedade do casamento. Já fiz isso tantas vezes que os leitores assíduos devem estar entediados. Meu propósito é outro. 

Desta vez eu queria enfatizar que a vida com múltiplos casamentos afeta as nossas escolhas e propõe mudanças na forma como nos relacionamos com o outro. Uma coisa é se casar achando que aquele é um evento único e vitalício. Outra é imaginar que o casamento faz sentido no momento, mas pode deixar de fazer no futuro. Essa nova perspectiva sugere cuidados diferentes. 

O essencial é imaginar que a pessoa que hoje é seu marido ou sua mulher pode se tornar um ex. Como ele caberia nessa outra função? Alguns exemplos de como essa pergunta pode ser relevante: 

1. Uma pessoa que mantém péssimas relações com os seus ex é, provavelmente, forte candidata a manter uma relação detestável com você no futuro. A não ser, claro, que você imagine que o casamento de vocês, ao contrário de todos os anteriores dele ou dela, nunca vai acabar... 

2. Gente economicamente dependente também pode ser um problema. Agora você está apaixonado – ou apaixonada – e banca tudo sem sentir-se incomodado. Mas quanto tempo vai durar a sua generosidade se o amor acabar? Se a experiência do resto da humanidade se aplica a você, pouquíssimo tempo. A dependência, porém, permanece, e pode tornar-se um aborrecimento bíblico. 

3. Você acha bonita a maneira como ela pode ser agressiva e teimosa com estranhos quando se trata de defender os interesses dela? Então se imagine por dois segundos do outro lado da mesa – é onde você vai estar, como um estranho, se um dia o casamento terminar em disputa. 

4. Generosidade é essencial na vida e pode ser ainda mais necessária quando as pessoas se separam. Você não quer discutir dinheiro, móveis, imóveis, discos ou filhos com um egoísta – ou uma egoísta - que não consegue se colocar no lugar do outro e quer levar vantagem em tudo, certo? 

5. Ter amigos é essencial. Ter família ajuda. Pode ser divertido viver numa bolha a dois por algum tempo, mas, se você é a única referência afetiva de alguém, sair de um casamento com essa pessoa pode tornar-se um pesadelo. 

6. Flexibilidade é um requerimento básico. Se você vai ter filhos, tem de estar preparado para a possibilidade de, dentro de alguns anos, vê-los morando com padrastos ou madrastas. No início dói um pouco, mas, se essas funções forem ocupadas por pessoas do bem, o convívio fará bem às crianças ou jovens adultos envolvidos. 

Essa lista de recomendações defensivas, embora útil, não encerra o que eu tinha dizer sobre as consequências dos casamentos múltiplos. Há um aspecto libertador na constatação de que o casamento não precisa ser eterno: podemos errar com menos culpa e até fazer experiências que não faríamos na situação anterior. 

Se você conhece alguém atraente, mas sabe, lá no fundo, que a pessoa não é “adequada”, o que fazer? Antigamente, o bom senso prevaleceria sobre a paixão. Afinal, tratava-se da vida inteira. Não mais. Agora podemos viver as aventuras. Podemos nos casar com uma pessoa que nos enche os olhos, a cama e o coração mesmo intuindo que aquilo não vai durar. Podemos experimentar. Claro, as pessoas sempre fizeram isso, mas os resultados eram potencialmente devastadores. Estavam condenadas a passar décadas com as consequências de um impulso. Isso acabou. 

O resultado é que podemos nos preparar, do ponto de vista do casamento, para viver várias vidas. Ou várias experiências, cada uma delas adequada a um momento da nossa existência. Algumas serão intensas e breves, outras tranquilas e duradouras. O importante, como na música, é a possibilidade de viver as emoções. 

Está claro, pelas estatísticas colhidas no mundo inteiro, que as pessoas gostam do casamento. Da cerimônia, da relação que se cria a partir dela, da família. O casamento forma parcerias únicas e propicia um erotismo profundo, que se atinge apenas nas relações duradouras. Ele fornece um ambiente adequado para a criação dos filhos e ajuda na multiplicação do patrimônio. 

Sempre houve boas razões para as pessoas se casarem. Isso não mudou. O que não existe mais é uma razão para permanecer casado quando o prazer da relação terminou. O casamento continua sendo uma boa ideia – que agora pode ser repetida uma, duas, três ou vinte vezes ao longo da vida.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras para a Revistaepoca.globo.com)

julho 10, 2011

UMA GLANDE, ÀS VEZES, PODE SER GRANDE, MAS "VÁ GINA" NUNCA FOI UMA ORDEM.

Ainda me espanto com a hipocrisia das pessoas. Prefeitura de Embu das Artes distribui cartilha didática sobre sexo e pais recriminam. Palavras como glande, vulva, pênis e vagina, foram os motivos dos acessos de indignação. As ilustrações eram bem diretas e objetivas e direcionadas para crianças de 10 a 11 anos.

Têm fundamento essas indignações? Uma vez que os pais, em seus mundos perfeitos onde não precisam conversar com os filhos sobre os diversos assuntos que rodeiam o mundo lá fora e um dos mais importantes são as diferenças entre o corpo do homem e da mulher e seus processos de amadurecimento e negam a tentativa da escola de sugerir o fim desse tabu, preferindo que os filhos aprendam na rua que um beijo não engravida, mas um sexo não seguro pode trazer doenças e que às vezes os meninos acordam com a cueca suja mesmo e que isso é perfeitamente normal.

Suponho que seja bem mais fácil ter uma filha grávida aos 12 anos em casa, que uma cartilha ilustrativa sobre sexo. E depois sou eu quem tem que pensar em processos sócio-inclusivos para orientar a ignorância alheia.

julho 06, 2011

"ENTREGUE SUA ARMA"

A secretaria de segurança anda vinculando uma campanha para o desarmamento: "entregue sua arma", ela diz.
Já me sinto, por demais, retardado, rechaçado, enganado, menosprezado, ao ver a câmara dos depoutdos de SP aprovar às pressas (para não perderem o prazo para o recesso) o aumento do salário do prefeito em quase o dobro, enquanto outros miseráveis ralam para coseguir pouco mais de um salário mínimo, quizá, menos que isso. Já me sinto tão bem mais quisto.

Mas, voltando à campanha. Já posso até imaginar os bandidos do Rio de Janeiro todos agrupados por morros e favelas: "deste lado, morro dona Marta, deste outro Rocinha...." (é óbvio q nem todos que moram lá se enquadram como bandidos) e sem esquecer daqui também e imagino: " e aê mano?! blz? pra quem não conhece nóis, nóis é skin head, que eu não sei o que é mais nóis é assim mesmo. Então, viemo aqui pra entregar as arma, tá ligado?! Nóis vimo a campanha e é isso...é nóis." Suponho que eles entreguem também soco inglês, machadinhas, canivetes e afins...falando em afins, pagaria para ver ,também, as "muitas lâmpadas" que foram quebradas na cabeça "das pessoas", na Paulista.

Não faço nenhuma apologia ao uso de armas, nem por bandidos, nem por cidadãos de bem que - por mais que a intensão seja se proteger - não é o caminho mais acertado, como também não é, o governo vincular uma campanha para desarmamento onde os maiores interessados, com certeza nunca farão isso. Políciais corruptos e também bandidos, nunca farão, traficantes nunca farão, assaltantes nunca farão.... De certo, é um assunto polêmico e sinceramente não sei para que contribue, evitar uma ou duas mortes aqui - usando-se uma arma como autodefesa - mas, e as outras milhares alí por assalto, bala perdida de policial, bandidos ou de ambos? Tenta-se desarmar quem na verdade? E se desarma-se um 38 aqui, de onde vem o fuzil de acolá?

Pois bem, assaltantes fazem, traficantes fazem, políticos fazem...façamos, vamos calar.

julho 01, 2011

EU GOSTARIA DE TER ESCRITO...


"Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade? 

Eu suspeito que não. 

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói. 

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo? 

Minha experiência sugere o contrário. 

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas. 

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado. 

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos? 

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer? 

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir? 

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios. 

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio? 

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada. "
  
  
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras para a revista Época).

junho 29, 2011

TENDO EM VISTA UMA ENTREVISTA VOCÊ...


Ah... sim, nesse Brasil tudo é diferente. Toda semana eu saio da minha casa, muito cedo, pego vento na cara, três metrôs lotados, para chegar com antecedência para fazer mais uma entrevista. Como é de praste, compro uma boa revista, jornal ou mudo a estação do rádio, no meu smartphone. Se for interessante posto algum aburdo aqui no face ou, numa rara ocasião, dou uma twitada, comentando alguma coisa, também absurda.

Chego no local da entrevista meia hora antes, para possivelmente ser "entrevistado" uma hora e meia depois. E antes disso, ouvir alguns "desculpem o atraso".
Todo mundo sabe que é regra não chegar atrasado ou em cima da hora, para uma entrevista e é certo também que, pelo fato de ter sido chamado para uma pré-seleção, supõe-se que o entrevistador tenha ao menos lido seu CV, ou que no mínimo, se tenha também essa mesma pontualidade por quem entrevista.
"bullshit", sim! Eles exigem expressões em mais de uma língua e estou fazendo uso dela agora. Posso falar me mais duas, se convier.

Depois de ler TODOS os artigos da revista, me vejo respondendo à perguntas - de novo - que seriam facilmente respondidas com uma simples consulta do entrevistador ao CV do entrevistado. NÃOOOOO...para que otimizar o meu e o seu tempo? Ninguém faz isso.

Bom, ao fim de todo o processo tive de fazer uma redação em inglês, sem tema, sem linhas mínimas e sem tempo delimitado. Aproveitei e propôs primeiramente o tema: "There looks like here" - algo como: "Lá é o mesmo que aqui ou lá se parece aqui" - versando sobre minha vivência no exterior - que lá, como aqui - sabe-se muito pouco sobre abordagem e como obter conhecimento interpessoal dos entrevistados.

A grande ironia seria: Eles fuçarem meu FB, lerem essa nota e já era a vaga, ou para "otimizar" o tempo de todo mundo: se eles não leram CVs, imagina essa nota. 

junho 27, 2011

NASCER, CRESCER & MULTIPLICAR-SE


A inconstância da vida me assusta. "Saber" que as coisas não estão ou não ficarão no seu devido lugar, saber que "nascer, crescer e multiplicar-se" não é uma opção e sim ilusão, me sufoca. 
Uma vez eu disse a um amigo: " Eu sei que o mundo dá muitas voltas, mas de volta em volta, eu estou ficando é tonto, amigo". Para alguns, saber que tudo é transitório, que tudo muda é reconfortante, mas essa sensação só é válida se você não está numa situação tão boa assim e logo em seguida pego-me a pensar: " Pela lógica e se o mundo, as coisas e as pessoas estão num infinito ciclo de altos e baixos, então se estou num bom momento, logo, o próximo será um momento ruim...sim, pois nunca ouvir falar que depois da bonanza venha mais bonanza", contudo, este dualismo é latente.

Eu tento não me preocupar com o amanhã, tento me concentrar na filosofia budista que me conforta e muitas vezes me intriga. Mas, não tem como eu não me preocupar. Nunca fui dado a pensamentos inconstantes, sou pragmático, muitas vezes cético e por demais racional, sou capricorniano, sou passional, sou pensamentos. O que me preocupa não é o amanhã, pois, ele não existe, o que me preocupa são os infinitos amanhãs que insistem em existir no meu dia-a-dia. Quando uma coisa me incomoda, insatisfaz ou "não é mais útil"( sim, útil ou inútil, todo ser humano é um parasita por natureza: parasitamos o outro em busca de afeto, parasitamos os amigos em busca de atenção, parasitamos os catedráticos em busca de conhecimento e parasitamos nosso passado em busca de auto-sabotagem), eu simplesmente descarto, ignoro...finjo que não existe.

Estamos vivendo todos os dias as transformações tecnológicas da vida moderna que ultrapassam nosso amanhã e nos remetem a uma vida sem espaço-tempo; e eu aqui, às vezes, pensando nessa coisa tão antiga, fugaz e inútil: o passado, mas por que será que isso eu não consigo ignorar?

junho 05, 2011

UMUMA COISA É A COLOQUIALIDADE, OUTRA É FAZER DISSO UMA NORMA.

Eu fico imaginando essas pessoas sentadas, numa sala confortável, tomando seus bons "drink" e sem se preocupar com as horas e dinheiro perdidos formulando isso, enquanto milhões de outros problemas precisam ser resolvidos nesse país, como melhores salários para os professores, merenda que dê para comer, escolas em boas condições e transporte escolar adequado.

MEC lança cartilha "Por uma Vida Melhor", distribuído para 4.236 escolas do país. Ele já começa com a seguinte pérola:

"A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros.
Agora temos luta de classes dentro da própria língua! Falar correto é coisa de burguês, e não algo a ser almejado por TODOS."
Os professores e a língua devem se curvar a qualquer um que surja com um modo específico de falar, e não é difícil imaginar que futuramente veremos nos próximos livros do MEC as frases "TODOS CHORA", "CORRAO" e "COMO FAS?" como exemplo de norma popular. Tomemos o exemplo de concordância do capítulo em questão:

"Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado"

Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião.

E não termina por aí:

Na variedade popular, contudo, é comum a concordância funcionar de outra forma. Há ocorrências como:

"Nós pega o peixe"

"Os menino pega o peixe"

Segundo o MEC, o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) - normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos.
"A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma 'certa' de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala", afirma o texto dos PCNs.

O linguista Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, critica os PCNs:
"Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar".

O Prof. Pasquale Neto alerta para o risco de exageros:

"Uma coisa é manifestar preconceito contra quem quer que seja por causa da expressão que ela usa. Mas isso não quer dizer que qualquer variedade da língua é adequada a qualquer situação."



Pelo amor de Deus não é...nem merece ser comentado: coisas do Brasil.