abril 05, 2006

"OMBRO AMIGO"

- Homem gosta de homem!

Disse, corajosamente, o cartunista Miguel Paiva (Radical Chic) na semana passada no gostoso (e gostosa) Marília Gabi Gabriela. É preciso ter peito para fazer-se uma declaração dessa em público. E, quem tem peito, geralmente, são as mulheres. E a Marília retrucou:

- Mulher também.


Escrevi e montei uma peça há uns anos atrás, chamada Bésame Mucho (que depois virou filme do Ramalho). Esta peça tratava justamente deste assunto. A relação de ternura entre dois homens.


Da infância até a maturidade. Antes que alguém viesse dizer que era coisa de viado, tive que inventar uma palavra para explicar a relação entre os dois personagens masculinos. A palavra era "homoternurismo" e, para minha infelicidade, até hoje não se incorporou ao Aurélio.


Mulher é bom, é ótimo, nem se discute.
Mas que os homens preferem os homens, também não se discute. Desde a infância, menino gosta de brincar com menino. Clube do Bolinha. Menina não entra! Na adolescência, é a mesma coisa.


Temos olhos para os seios e os bumbuns da meninas, mas no meu time de futebol elas não entravam. Era rapaz de um lado e as meninas do outro.


A gente casa, ama a esposa da gente, tem filhos, mas não vê a hora de ir para o botequim tomar umas e outras com os amigos. Os amigos do peito. Já notaram que os homens não têm amigas do peito? Têm amigas com peito.


Na hora da confidência mais confidencial, na hora do aperto, do ombro amigo, é o amigo do peito (para se chorar) que está ali.
Favor não confundirem, jamais, homoternurismo com homossexualismo.


E a gente vai crescendo e vai formando o nosso time de amigos eternos, confiáveis, pau (ops!) pra toda obra.
O domingo, por exemplo, foi feito para se passar com os amigos.


O jogo de futebol, os gols na televisão, a cervejinha gelada. Mas qual é a mulher que não quer ir a "um cineminha" no domingo? Devia ser proibido mulheres aos domingos, dizia um meu amigo do peito, casado.


Tudo isso que eu escrevi aí em cima, se for mesmo válido, só é válido até uma certa idade. A idade que eu estou agora.
Quase cinquenta anos, cheio de amigos e sem nenhuma mulher. Talvez por pensar assim.

"Um misógino!", diriam elas. Mas o mesmo Aurélio, que não consolidou o homoternurismo, diz que misoginia é uma "repulsa mórbida do homem ao contato sexual com as mulheres". Não é o caso.


E, outro dia, discutia isso com um velho amigo velho de 84 anos. Ele concordou, em termos, do alto de sua sabedoria de ancião. Mas fez uma ressalva. Jogou na minha cara:


- Daqui para a frente, é melhor começar a convidar mulheres para ir ao jogo de futebol. É melhor ir aprendendo a tomar caipirinha com mulheres no sábado antes da feijoada. Já está na hora de parar de reparar apenas nos seios e nas bundinhas da mulheres. As mulheres têm mais alma que os homens!


- E daí?, respondeu o machão aqui.
- E dai, meu filho, que você na velhice vai ficar chato, intransigente, metódico, sistemático. Aliás, já está ficando.


E não tem nenhum amigo do peito nessa hora para te socorrer. Se você chegar sozinho na velhice, não conte comigo, que eu já fui embora. Quem sempre cuidou de você foram as mulheres. A começar pela sua mãe.
- Você está querendo que eu arrume uma outra mãe?


- Não, meu filho. Uma mulher. Vai por mim, mulher é muito melhor que homem. E quanto mais velhas ficam, melhor nos entendem. Ao contrário dos homens.


E pediu mais uma caipirinha, enquanto olhava o traseiro da jovem, muito jovem, garçonete. Encerrou, com o olhar distante:


- Mulher é o que há, menino! Trate logo de arrumar uma, enquanto você está vivo... E quer saber de mais uma coisa? Esse papo de homoternurismo, pra mim, é coisa de viado!

O Estado de S. Paulo- 29/05/95


Texto de Mário Prata. Esse texto é interessante por flagra a costante angustia masculina em não demonstrar emoção. Retrata fielmante no final o verdadeiro machismo puro e simples e isso sem falar na propria disconcertância de achar que há algo errado quando resolve exprimir emoção. Pura bobagem.

Um comentário:

Marcio Oliveira disse...

Ehhhh Well, esse tem verdades e verdades. Mas verdades ainda têm o discreto comentário. Não só o homem, mas principalmente ele, tem esse bloqueio em expressar emoções e sentimentos. O que teme? A falácia da sociedade? O medo de reconhecer ser alguém com sentimentos? O quê?
Até onde vale a pena viver de machismos e ideologias que no final, quando percebemos, só nos ferraram, não somaram e nada em nossas vidas?
Por que frisar que não é homosseuxal quando deita no ombro do amigo? Muitas vezes a rejeição encontra-se em nós quando não somos capazes de realizar que eis a melhor maneira de viver: amar e amando. Como? Nos mais sublimes atos de trocas de carinho e contato. Raramente vemos um homem dá um abraço no outro; geralmente, expressa-se uma frieza em um aperto de mão. Ridículo, isso!!!
Mas supera-se!!! As coisas estão mudando e a esprança que se tem é que cessem, se possível, tais pensamentos infantis e futeis de que "homem não chora, os olhos que suam". Fala sério...
O que Mário pecou no texto é usar o termo "Homossexualismo" ao invés de "Homossexualidade". Afinal, a terminação "ismo" determina doença, termo usado antigamente p/ determinar a opção de vida de muitos. Pq se naum, poderiamos ter "Heteressualismo", um mode estranho de tantos outros, rsrsrsrs. Mas, como não é questão patológica, o usemos "Homossexualidade". Por essa gafe, gravissima, não dou 10 a ele; mas, 9. uHAuhauahuhauhuahu
Um abração