março 09, 2006

NÃO HÁ EXISTÊNCIA SEM O OLHAR QUE TROCAMOS ENTRE NÓS

Imaginaria-me agora em uma praia cinzenta e fria, sozinho. Só eu e o mar molhando meus pés. Penso que alguém ignorado sente o mesmo: isolado, angustiado, tomado pelo nada a correr por essa praia imaginando alcançar alguém que se disponha a me ver, a conversar comigo, a me notar como pessoa.


Penso que essa minha praia não seja diferente da rua a qual vim e vivi, como vivem tantos meninos e meninas, assim como eu, impossibilitado de existência social, restando-nos somente a praia, sempre a tocar nossos pés para nos lembrar que assim como a água, as pessoas podem também ser bastante frias.


Conseqüentemente, se corro em direção a nevoa que me cobre a vista e tento observar o vulto que penso ser alguém a me notar, corro...mas para onde? Para quem? Se alcanço o vulto, logo descubro que ele não estava acenando pra mim, não sou eu o notado, passo desapercebido.


O vulto passa por mim e eu por ele. Baixo minha cabeça e me pergunto se Rousseau estaria certo em afirmar que não há existência sem o olhar que trocamos entre nós.
Em seguida, uma outra pergunta me vem de relance. Volto o olhar pra mim, me observo e imagino se minhas roupas sujas e rasgadas fariam diferença se assim elas não fossem vistas. Se a possível alvura de minha pele determinaria meu potencial de ser notado, de existir.


Poderia o resto da vida viver nessa praia, mas não posso. Uso de malabarismos e às vezes piruetas, na esperança de que dessa forma olhem para mim. Muitas vezes não consigo. E então só o que posso fazer é observá-los protegidos por seus escudos de vidro, intocados em seu mundo.


Por quanto tempo me deixarão isolado na praia? Por quanto tempo me deixarão afogado na rua? Não tenho respostas, somente a água fria.


Nessas horas justifico o motivo de alguns iguais a mim, usarem de qualquer poder de atenção para ser notados. Muitas vezes, chegam até a quebrar o escudo de vidro, quão desesperados de existência eles estão, outros algumas vezes vão além, e não quebram somente o escudo, quebram suas vidas também, somente em busca da tão valiosa existência, escondida entre o poderio do dinheiro e alvura da pele.


Mais um de meus textos para a disciplina de Sociologia que não foi digno de nota.
Lembro que produzi este texto enquanto ouvia "yellow" do Coldplay, visualizei o clipe dessa musica e desandei a escrever, acho que exagerei na viagem um pouco.

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